quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

CAPITULO 8 - UM SONHO RUIM







Ele me deixou aqui, em meu apartamento e foi embora. Ele me beijou, fizemos amor e ele foi embora com a promessa de que voltaria. Eu acreditei em cada palavra dele por um bom tempo. Por um bom tempo, deixara mensagens em seu celular. Mensagens sem respostas. Ligações desesperadas por uma palavra dele. Um sinal de que ele estivesse vivo. Um sinal de que o que passamos...o que vivemos não fora um sonho meu. Uma alucinação da minha mente doentia. A preocupação excessiva por pensar em sua morte transformara-se em raiva quando soube que Sweet  esbarrara nele ao sair do "California", e aos berros, exclamou:

"Cara! O que tá fazendo aqui!? Adessa não para de te ligar!"

- E, por que diabos vc faria isso por ela? 

- Porque somos amigas, ué!

- Desde quando, Sweet!?

- Desde sempre, Doc! - Rebate Sweet, enfurecida. - Antes de vc bancar o guarda-costas dela, nós éramos amigas íntimas!

- Amigas de verdade não desejam o homem da outra. - Refuta Doc, claramente contrariado. - Por que não ligou pra ela quando o viu!?

- Eu tentei, caralho! Eu tentei!

- Fala baixo.

- Para, gente. - Peço, confusa. - Como ele estava, Sweet!? Onde!?

- Estranho. 

- Como!? - Exalto-me pensando no pior. - Estranho como!?

- Não sei! Eu tremia de medo porque ele não se afastou de mim, porra! Ele sumiu! Tipo...evaporou!

- Bobagem...- Resmunga Doc enquanto me abraça. - Ela não gosta de vc e vc sabe disso. Quer que fique nervosa.

- Para de ser ridículo! Eu não tô mentindo! Eu 'vi ele'!

- 'Eu o vi'. - Corrijo-a, inconscientemente. Sem perceber, ela continua a falar, parecendo nervosa.

- Vc viu ele também!? Ele te disse alguma coisa!? Seja lá o que ele tenha dito, é mentira!

- Do que tá falando, Sweet? Eu não o vi.

- Fecha a boca antes de se entregar, paspalha. - Alerta Doc, levando-me consigo para o interior do "California". - Viu? Não confie nela.

- Deixa ela, Doc. Ela não é má. Só gosta muito de grana. Precisa...

- Vc também precisa, filha. Eu também preciso, mas nós dois temos princípios que ela não tem. Fica longe dela.

- Ok, Doc. Obrigada por ser meu amigo.

- Ele vai voltar. Fica calma.

- Eu vou. - Minto. 

O depoimento de Sweet só me faz acreditar no que eu já pressentia. Ele não está entre nós. Não nesse mundo. Isso me faz pensar que ele, talvez, esteja morto. Se ele estiver morto, eu morro também. Por que está fazendo isso comigo? Por que não aparece para mim também!? Não se lembra do que fizemos? Do que sentimos juntos? Vc disse que me amava. Disse que não me deixaria nunca. Vc mentiu, seu verme???

Eu queria tanto tanto tanto te contar a novidade! Vc pode me ouvir de onde estiver? Seu filho tá aqui, dentro de mim

Eu queria tanto tanto tanto te contar a novidade. Vc pode me ouvir de onde estiver? Seu filho está aqui, dentro de mim. É. Seu filho, amor. Ainda está muito pequeno, mas eu já fui à minha médica e ela confirmou. Estou grávida. Fiquei pensando nos nomes, aguardando por sua ligação. Não largo essa porcaria de celular. Aonde eu vou, vou com ele e eu odeio celular, mas como eu vou me comunicar com vc sem ele? 

- Vc tá vivo? Vc me ouve? Vincenzo! Me ouça, por favor! Vou enlouquecer se vc tiver morrido e me deixado nesse mundo sozinha! Como eu vou criar nosso filho sem vc? Sem seu sorriso, sem sua alegria? Sem sua ternura que me conquistou pra sempre? Pensei em Antoine. O que acha? Não sei de onde veio a vontade de chamá-lo de Antoine. Foi meio que uma inspiração...sei lá. Eu ouvi e gostei. Antoine. Nosso filho...nosso segundo filho tá aqui, amor. Volta, por favor. Volta.

- É a sua vez. Estão te chamando no palco. - Sussurra Sweet  olhando-me através do espelho do nosso camarim. Ela está suando, com cheiro de sexo. Desagradável. Como um dia, eu pude fazer o que ela faz? A desprezível 'fila indiana'. Argh!  Nunca mais. Agora que há uma vida dentro de mim que merece toda minha atenção. Uma segunda chance. Sweet parece cansada. Lidar com filhos e levar a vida que levamos, ou melhor, que eu levava não deve ser nada fácil. - Acorda, Adessa! - Sorrio quando ela imita Vincenzo ao estalar os dedos em frente aos meus olhos perdidos. - Vou retocar sua maquiagem. Tá horrível! 

- Ah tá. - Permito, sem ânimo, enquanto ela me implora para parar de chorar. - Não consigo. Vc tem certeza de que era ele? Poderia ser alguém muito parecido...tipo...um sósia!!!

- Não, meu bem! - Inspirando e expirando profundamente, retocando meu batom 'vermelho puta', ela afirma meio que assustada. - Era ele! Eu reconheceria aquele homem maravilhoso em uma noite chuvosa durante um 'blackout'! - Solto uma risada que morre num suspiro. 

- Ele é lindo, né? 

- Sim. Muito. - Afirma ela, puxando-me da cadeira, tentando me animar. Desde quando Sweet começara a gostar de mim, de verdade!? - Mostre àqueles idiotas lá na plateia quem é Adessa Santoro! A bailarina stripper que se recusa a ficar nua diante deles! 

- Eu deveria ser Adessa Rossi...

- Como????

- Nada.

- Não ouse chorar!!! 

- Por que ele apareceria pra vc, Sweet!? E não pra mim!? - Um erguer de sobrancelhas e ela responde, dando de ombros.

- Sei lá. De repente, ele me viu. Gostou do que viu e...

- Cala a boca!

- Tô te zoando, boba. - Não gosto do que vejo em seus olhos. - Vc confia em mim, né?

- Sim. - Minto. - E por que não confiaria? - Um abraço e ela me sussurra.

- Não desista dele. Talvez ele goste mesmo de vc. Vai!

Sério? Sweet me 'dando uma força'? Não faz sentido. Tem algo de errado nessa história.



Eu deveria abrir as cortinas e surgir do nada como a puta estonteante que costumava ser antes dele. Mas eu não quero abrir as cortinas. Não quero ouvir os urros enlouquecidos ou o coro de panacas me chamando de 'gostosa'. Não quero dançar. Não quero olhar aqueles vermes que estão à procura de algo que preencha o vazio de suas almas. Eles não sabem que estou grávida e que não deveria estar aqui!? Sweet Child não sabe também. Somente Antoine, Vincenzo e eu sabemos. Sim. Eu sei que Vincenzo me ouve. De onde estiver, ele me ouve.

- Dance! - Incentiva-me Doc, meu grande amigo Doc. É ele quem tem cuidado de mim. Ele tem me protegido dos ataques dos insanos que ainda pensam que sou a mesma. Sorte a minha o dono da boate gostar de mim e do meu jeito de dançar. Não se importa que eu somente dance. Quando me neguei a tirar a roupa, ele meio que reclamou, mas acabou concordando:

"Vai se destacar por ser a puta mais pura de todas. É. Parece legal. Ok! Tudo bem! Seja feita a sua vontade!"

Apesar de minha barriga ainda não aparecer, uso um top com franjas que vão até a parte debaixo do biquini ainda bem cavado. Meu top é sem bojo já que meus seios estão extremamente volumosos, o que chama a atenção de muitos, inclusive de Sweet  que me olha com estranheza. Ela ainda não pode saber de nada. Gosto dela, mas há algo em seu olhar que me incomoda. Danço "Wuthering Heights", a última música que dançamos juntos antes de partimos daquela casa na praia onde fui feliz. Onde deixara parte de mim, assim como Cathy deixara seu corpo e passara a vagar nos morros dos ventos uivantes atrás de seu único e cruel amor, Heathcliff.



"Gosto dessa música. É bem a sua cara"

Foi o que ele me disse enquanto dançávamos juntos na sala sobre o tapete felpudo. 

"Me perseguir depois de morta só pra me vigiar."

"E vc? Seria capaz de viver sem mim, nesse mundo e eu, no outro?"

"Nunca. Aonde vc for, eu vou."

- Vc mentiu, Vincenzo. Mentiu porque estou aqui, sozinha, rodeada por uma multidão que me quer nua. Por que não me tira daqui como naquela noite? - Falo comigo mesma sob o som ensurdecedor do ambiente. Ele prometeu estar ao meu lado mesmo depois da morte. Eu fiz o mesmo. Ele não pode ter morrido. Não. Não faria sentido algum me engravidar pela segunda vez e morrer? Qual a graça nisso tudo? Panaca. - Eu vou te achar...- Murmuro sem perceber, parada sobre o palco, procurando por ele, implorando que ele surja do nada e me salve...novamente.

Estranhamente, estão me aplaudindo enquanto danço como um fantasma perdido na escuridão em busca de seu amor

Estranhamente, estão me aplaudindo enquanto danço como um fantasma perdido na escuridão em busca de seu amor. Talvez, muitos aqui se amarrem em flashbacks assim como eu.

Rodopio e, agarrando-me ao 'pole dance', de cabeça para baixo, repito o refrão que mais gosto na canção de Kate Bush:

"Ooh, let me have it, let me grab your soul away

You know it's me, Cathy"


Deixe-me agarrar sua alma. Deixe-me levar sua alma porque ela pertence a mim. 

A plateia vai ao delírio ao som das notas do piano minutos antes de Kate Bush voltar a chamar por Heathcliff  em sua canção, enquanto eu solto meus cabelos e, pensando em Vincenzo e no quanto ele me amou da última vez, movo a cabeça deixando os fios de meu cabelo livres, soltos, rebeldes soprados pelo ventilador gigantescos escondido, estrategicamente, entre a plateia e o palco. 

Termino o show, ouvindo aplausos esfuziantes vindos do fundo da boate, próximo às caixas de som. 

- É ele! - Sobre minhas botas até os joelhos, mantenho-me de pé no palco, cobrindo, com minha mão em concha, os olhos semicerrados, ofuscados pelos holofotes que não me deixam vê-lo. - Vincenzo! É vc!? É vc, amor!? - Grito, desorientada. Corro para a lateral do palco e chego a descer os degraus, mas Doc surge à minha frente, e me impede de continuar a andar.

- Me deixa! É ele! Vai fugir! - Aos solavancos, tento me desvencilhar de Doc que, com cuidado, tenta me deter. - PARA, DOC! É ELE! EU SEI QUE É! - Imobilizada por Doc, solto o ar pela boca e com o ar, vão-se embora todas as minhas esperanças quando vejo um homem estranho vindo em minha direção. Ele me causa asco e eu sequer o conheço. - Me tira daqui, Doc. - Doc me toma em seus braços e, subindo os degraus de volta ao palco, encara o homem que continua a bater palmas ainda que o show tenha terminado e já tenha outra dançarina em meu lugar. Tremendo-me toda, arrisco um olhar por sobre o ombro de Doc que pede para que eu não lhe dê atenção.

"Não é gente boa", avisa-me ele que possui um dom especial: o de sentir o que há no coração dos outros.

Abrindo um sorriso macabro, o estranho para de bater palmas e fixa seu olhar incômodo em mim até que eu desapareça atrás das cortinas e volte a respirar quando Doc me põe no chão.

- O que foi aquilo!? Vc o conhece!?

- Não! Eu nunca o vi antes! - Minto. Sinto que o conheço de algum lugar e, pela forma que me olhou, ele certamente já me viu antes. De onde o conheço? Por que sinto piedade por ele? Devem ser os hormônios. 

Doc me leva até meu carro. Espera que eu entre e me sente no banco do motorista e me aconselha a sair dali o mais rápido possível. 

- Quer carona? Tá chovendo! Vem! Te deixo na rodoviária! 

- Gosto de andar, meu anjo. - Sua voz grave contrasta com seu jeito meigo de lidar comigo. - Gosto de andar e pensar na vida. Agora, liga o carro e vai. - Abrindo um de seus sorrisos encantadoramente iluminados, ele se despede, batendo com a mão gigantesca no capô do meu carro. - Vá pra casa, Adessa. Vá, por favor. Não gosto de te ver aqui, sozinha.

- Tô indo. Tô indo. - Apoio meu queixo no volante e fixo meu olhar em meu grande amigo. Gosto de vê-lo andar vagarosamente com as costas curvadas para frente, mãos nos bolsos do casaco em couro preto. Seu esposa tem sorte. Ele a ama. - Por que alguns amam e são amados e outros, não? - Arquejo, sentindo uma pontada no peito enquanto o vejo sumir, dobrando a esquina. 

Merda!

Volto a chorar e a me lembrar dele. Ele que não me sai da cabeça e me faz pensar em coisas ruins. Não tenho dormido porque penso que ele está morto e, se ele estiver, eu não vou aguentar. Eu me odeio por amar tanto o pai do meu filho. Eu o odeio por não saber que é o pai do meu filho...novamente. Quem me disse que eu não poderia ser mãe novamente? Não me lembro...

- Pega, porra! - Giro a chave na ignição pela terceira vez e nada. - Por que deixei que Doc fosse embora antes de mim? - Olho ao redor e, pela primeira vez, tenho medo de estar aqui, onde sempre estive ao término dos shows, as ruas apinhadas de pessoas perdidas à procura de prazer, diversão...amor. - Tá vazia. Esquisito. PEGA! - Grito com "William Wallace", meu carro, meu fiel companheiro. Giro a chave novamente, enfio o pé no acelerador, mas o truque de injetar gasolina para ele 'pegar', não dá certo. Retiro a chave, com as mãos trêmulas. - Para. Se controla. - Digo a mim mesma, olhando pelo retrovisor. Nada atrás de mim. Nada à esquerda. Nada à minha frente. - Porra...- Praguejo ao deixar a chave cair em algum lugar junto aos meus pés descalços. Larguei a bota no banco traseiro. Gosto de dirigir descalça. - Eu sei. Eu sei. Eu já deveria ter consertado a porra da luz interna, mas não consertei. Tá bom assim!? Estúpida! Onde vc tá? Por que eu tô com medo, porra? Cadê a merda da chave??? Por que ainda não comprei um carro 'zero' se já tenho grana para isso, cacete??? Como eu posso parar de falar palavrão sob tanta pressão??? Calma, filho. Já já a gente vai pra casa. Calma. Calma...ACHEI! - Mantenho a mão esquerda no volante enquanto a direita tateia na escuridão do interior do meu carro, especificamente, entre a embreagem e freio quando meu coração acelera e eu sinto o incômodo jato de adrenalina percorrendo minha corrente sanguínea. Sem olhar para a mão que acaba de pousar sobre a minha, comprimo a chave entre meus dedos e abro, imediatamente, o porta-luvas de onde tiro meu 'taser' com lanterna para defesa pessoal que comprei em um site assim que ouvi rumores de que as meninas do "California" estariam sob a mira de um psicopata.



Eram boatos, mas, de qualquer maneira, eu comprei e, acredito que esse é o momento ideal para testá-lo em um ser humano, pela primeira vez. Em fração de segundos, movo a tecla 'on/off' e ligo o aparelho. O led está vermelho. Hora de usá-lo no infeliz que mantem sua mão sobre a minha. Meu dom de tocar pessoas e sentir o que sentem e quais são suas intenções está mais forte a cada dia. Queria que Vincenzo estivesse aqui para me ajudar a controlar essa coisa. Queria que ele estivesse aqui, agora, para socar a cara desse verme que me deseja como mulher e não sabe que EU SOU MÃE!


- Tira a porra da mão de mim ou vai se arrepender. - Aviso, entredentes, ao homem que reconheço. O mesmo das palmas ao final do meu show. O 'taser' já está emitindo centelhas em minha mão irritantemente trêmula. Sou capaz de me eletrocutar se eu não me controlar. "Antoine, meu filho, me ajuda". - TIRA A PORRA DA MÃO AGORA!!! - Ouço o ruído da descarga elétrica de alta voltagem ao lado do meu ouvido esquerdo enquanto percebo que ele não move um só músculo, embora eu sinta que ele quer falar. Não consigo ver seu rosto mergulhado na penumbra. Segundos antes de receber a descarga elétrica que dura um segundo de dor e paralisia no pescoço onde eu o atingi, escuto sua voz grave afirmar, pausadamente. 

- Enfim, eu te encontrei.



Tenho a porra de um segundo para enfiar a chave na ignição e sair daqui. Salvar meu filho é o meu maior objetivo. Não ser estuprada por esse homem, vem logo em seguida. 

- VINCENZO, ME AJUDA! - Grito como se ele pudesse me ouvir. Enfim, o motor ruge como um leão enfurecido. Piso no acelerador, passo a marcha, solto a embreagem e, de longe,  pelo retrovisor externo, eu o vejo se levantar do chão e acenar para mim como se fossemos amigos de longa data. Desvio de um carro em alta velocidade ao avançar o sinal. Viro à esquerda e já não o vejo mais. - PU-TA-QUE-PA-RIU.

Nunca me sentira tão só no mundo como hoje. Antes, eu lidaria com isso, de boas. Estaria rindo aqui, em casa, tomando um taça de vinho. Agora, depois de vc, Vincenzo, estou chorando, morrendo de medo de que algo aconteça ao nosso filho, sem saber onde vc está ou porque me abandonou. Eu nunca mais vou te perdoar por ter me feito acreditar que a vida valeria a pena ao seu lado. Eu ainda não consigo te odiar porque vc é parte de mim, porque é parte de Antoine, mas nada como o tempo. Eu vou te esquecer.

- Eu vou te esquecer,  amor. - Choro, acariciando a minha barriga, sentada na poltrona reclinável para amamentação que chegara hoje cedo. O quarto de Antoine está quase pronto. Não vou montar o berço. Não mesmo! Meu filho vai nascer perfeito! Ele vai nascer! - ELE VAI NASCER! - Aviso num grito como se houvesse alguém a me escutar. Tomo o chá de camomila misturado às minhas lágrimas incessantes. Sinto-me como uma patética manteiga derretida. - Preciso ser forte. - Suplico, assoando o nariz. - Queria montá-lo com seu pai, Antoine. Mas ele não tá aqui. Então, por precaução, não vou montar seu bercinho, filho. - Cerro os olhos e, de tanto chorar, exausta pelo que acabara de passar, bocejo enquanto declaro. - Seremos vc e eu. Vc e eu, ok?

Vejo meus pés descalços pisando na grama fresca. A velha e longa camisola branca dos meus sonhos estranhos. O vento fresco em meu rosto. À minha frente, uma casinha branca, o telhado, coberto por bougainville que se derrama por sobre a janelinha em madeira, pintada de azul. Olho para baixo e vejo uma criança a me puxar em direção à casa. Levo a mão à boca para abafar um soluço.

- Antoine!? 

- Vem, mamãe. - Cochicha meu filho. Como sei que é o meu filho? NÃO SEI. EU O SINTO. - Ele tá aqui e precisa falar com vc. - Devo estar louca ou sonhando acordada porque sinto tudo com tanta intensidade que tenho a impressão de que vou morrer de tanta felicidade. Puxo Antoine que se volta para mim, sorrindo e, agachada, eu o abraço. Um abraço tão forte e demorado que quase o sufoco. Rindo, ele pede para que eu o siga.

- Ele precisa falar com vc, mãe. Vem!

Eu o sigo. Sorrindo e chorando, eu o sigo até a casinha onde ele entra como se já a conhecesse. Como se morasse nela.



- Eu moro aqui, mãe. Nós três moramos aqui. - Rio, hesitante. Meu coração está em minha garganta quando peço ao meu filho que não solte a minha mão. - Não fica com medo não. Vc vai gostar da surpresa.

Deixo-me conduzir pela casa, pelo corredor que se alonga à medida em que andamos. Quanto mais perto estou da porta vermelha, mais longe ela parece estar. Antoine, pequenino e incansável, continua a me puxar. Seus cabelos são escuros como os meus. Os olhos claros e as covinhas ao sorrir são, definitivamente, de Vincenzo. Se eu estiver no Céu, não quero voltar. Há tanta paz aqui...



- Vcs têm pouco tempo. Deixa ele falar tudo, mãe. - Agachada, eu o ouço cochichar como se temesse algo ou alguém que nos interrompesse. - Pode ir.

- Vc não vem!? Não vou te deixar sozinho, filho!

- Não estou só. Vai, mãe! Ele precisa falar!

- Ele quem!? Filho!

Antoine desaparece. Desespero-me, gritando por seu nome. Olho ao meu redor e sufoco outro soluço. Parada, com a mão na boca e lágrimas nos olhos, eu o vejo acorrentado. Corro em sua direção, ajoelhando-me diante dele. Minhas mãos sangram pelo atrito entre o ferro e minha pele. Por mais que eu tente, não consigo libertá-lo das correntes.

- O que fizeram com vc? Por que tá aqui? Vc tá morto!? Não. Não diz isso! Por favor, diz que não morreu! 

- Não morri. - Diz ele, sorrindo. Um sorriso triste que desconhecia. - Não fala nada. - Ergo-me furiosa, mas eu me calo quando ouço sua voz sair com dificuldade. O mesmo olhar que me acalmava quando eu perdia o controle. - Dess, deixa eu falar.

- Vo vo vo você viu...? - Aponto meu polegar para trás onde, antes, havia nosso filho. Ele não compreende que estou desorientada ou está brincando comigo!? - Você viu ou não viu, Vincenzo Rossi???

Ele me fita de cima a baixo, acorrentado, machucado, os olhos inchados, os lábios secos que umedeço com um beijo longo e cheio de saudades. Beijo seus ferimentos, puxo as correntes. Grito por ajuda. 

- Dess...eles vão chegar. Preciso te falar. Cala a boca, pelo amor de Deus.

- Que Deus é esse que te deixa aqui!?

- DESS! ME OUÇA!

Puxo o ar pela boca e a mantenho aberta enquanto eu, enfim, o ouço.

- Não estou morto. Não consigo ouvir seus pensamentos daqui. Perdão pela dor que te causei. Eu não quis. Não posso me libertar agora. Preciso cumprir as ordens. Preciso sofrer as consequências se eu quiser me libertar e ficar com vc. Preciso. Entenda. Eu não te abandonei. - Assinto com a cabeça enquanto penso em um meio de libertá-lo das correntes. - Dess, não existe um meio. Vc deve voltar e acordar. Seguir com sua vida até que eu volte a te encontrar. Se ainda me quiser...- Paro o que estou fazendo e, fuzilando-o com meus olhos, protesto.

- Idiota. É claro que eu quero. Eu te amo. 

- Te amo também. Mas eles não entendem o que é amor. Não o tipo de amor que há entre nós dois. Eu preciso ficar aqui até que o tempo se cumpra. - Ameaço interrompê-lo. Ele me repreende com seu olhar incisivo. Eu me calo. Engolindo em seco, a voz ficando rouca, eu o deixo continuar ainda que não tenha desistido de arrebentar as correntes que o prendem a uma minúscula cadeira em madeira. - Eu vou te encontrar. Preste atenção ao que vou te dizer. - Beijo sua testa, arrumo seus cabelos sujos e desalinhados. Observo o local sombrio. Uma lâmpada tênue sobre nossas cabeças. Acabo de perceber que estamos dentro de uma jaula. UMA JAULA??? - Dess!

- Tô ouvindo. - Ajoelhada, beijo sua boca com cuidado. - Fala. Vou estancar na porrada quem fez isso contigo! Quem são eles!? Onde estamos!?

- Não posso falar.

- Não pode ou não quer? - Indago, intrigada. - Onde estamos, Vincenzo? Por que estamos em uma jaula? Por que foi preso? Aqui é o inferno?

- Não. Vc não compreenderia se eu te dissesse a verdade.

- Tenta!

- Dess!

- Tem alguma coisa de errada em vc. Tá me escondendo a verdade por quê? - Há feridas em suas costas curvadas para frente. Penalizada, eu as toco. Meus dedos sentem espinhos ao deslizar em sua pele, antes, macia. Num recuo, horrorizada, pergunto. - Que porra é essa!? Por que eu vejo asas!? 

- Fica longe de mim, Dess. - Rosna ele. - E me ouve.

- O que vc é, Vincenzo!? - Assombrada, eu o escuto berrar.

- EU PRECISO TE FALAR ALGO IMPORTANTE E O TEMPO TÁ SE ACABANDO!

- Não precisa gritar! - Grito, indignada. - Não sou surda!

- Ga'al vai te procurar. - Arquejo, de olhos estatelados. - Não na figura de um demônio. Ele voltou como homem e vai te procurar. Toma cuidado com ele. Não deixe que ele te toque porque, dessa vez, ele vai usar de outras artimanhas. Eles o libertaram. Eles querem testar sua lealdade. Sua força. Desconfiam de vc, de seu amor por mim. Eles o libertaram. - Rosna Vincenzo, erguendo-se da cadeira, ainda preso às correntes. Vejo, com clareza, seu rosto deformado por socos. Toco em sua pele. Sinto sua raiva, sua impotência. Choro pelos mesmos motivos que os dele. Inspirando e expirando, ele retoma sua calma e me beija com paixão. 

- Não vou te deixar. - Decido. - Vou acabar com esses filhos da puta!

- Vá embora agora. Eles estão voltando.

- Não mesmo! O que tá acontecendo!? Meus pés! Meus pés não saem do chão! - Olho para Vincenzo que olha para o lado oposto ao da porta por onde entrei. Há pavor em seu olhar. - Por que eu não consigo andar!? Vou acabar com eles! Filhos da Puta!

- Adessa, volta!

- NÃO SEM VC! - Berro com os olhos fixos na poeira crescente que se espalha pelos quatro cantos da sala. Não sei quem são, mas sinto a maldade pairando sobre nossas cabeças. Quero gritar, mas a voz não sai. Quero me mover, mas meus pés estão grudados ao chão imundo feito piche que vai subindo pela barra de minha camisola longa até chegar à minha cintura. Estou perdendo as forças e me entregando ao ódio. Um ódio que não é meu. Que não é de Vincenzo. - Não faz sentido...

- Dess, me perdoa. - Do meu Vincenzo só restara a voz suave, sofrida que me ordena. - Volta e acorda.




Continua...


domingo, 29 de janeiro de 2023

CAPÍTULO 7 - UM SONHO BOM

 




"In vino veritas", foram suas palavras antes de eu tomar o primeiro gole de vinho na noite em que nos beijamos pela primeira vez. Como se quisesse me avisar de que tudo poderia acontecer se eu cruzasse o limite que nos separava.

Eu cruzei. Eu me entreguei a ele. Ele não. 

Ele não cruzou seus limites.

Estou bêbada, mas a tontura vem do seu beijo, de suas mãos apalpando minhas costas, minha bunda

Estou bêbada, mas a tontura vem do seu beijo, de suas mãos apalpando minhas costas, minha bunda. Apesar do frio, ele retira o suéter pela cabeça, dando aquela 'curvadinha' para frente, que me encanta. Por que as mulheres retiram suas roupas de forma diferente? Puxamos de baixo para cima enquanto os homens se curvam para frente, baixando a cabeça entre os braços flexionados e alcançando, com as mãos, a barra da camisa pelas costas. Então, eles a puxam para frente e, como num passe de mágica, ele surge diante de mim com o mais iluminado e cafajeste dos sorrisos, o que me deixa ainda mais tonta. Fecho os olhos e sinto leves tremores por todo o corpo. Um calor me aquece por inteiro quando ele desabotoa, vagarosamente, a parte de cima do meu pijama longo em flanela, quadriculado em rosa e lilás. "Por que tá rindo?", pergunto enquanto ele me observa de sutiã e a calça larga do pijama. "É de mim ou é pra mim?", questiono meio que insegura. Não sei se estou muito magra ou se meus seios deram uma 'caidinha básica' exatamente porque emagreci após o sequestro.

- Responde! - Ordeno, ameaçando arremessar um cinzeiro em vidro que cato da mesinha no centro da sala. - Para de rir e me diz o que fazer. Por favor.

Um puxão em meu braço e nossos corpos se unem novamente. O cinzeiro caiu no chão e eu, só não caí com ele porque estou em seus braços. Estamos unidos e já não é para dançar. Minha pele sente a dele. Estamos mais conectados do que nunca. Só não entendo porque ele continua a sorrir e a me olhar como se eu fosse algum tipo de alienígena.

- Nada a ver! - Ronrona ele em meu ouvido. - É que não sei o que fazer ou por onde começar. Vc é tão linda que dá medo.

- Deixa de ser bobo. - Sussurro contra seu pescoço. - Sou eu quem está com medo aqui. Por incrível que possa parecer, não sei o que fazer também. 

- Damas primeiro? - Sugere ele enquanto eu solto o ar pela boca

- Damas primeiro? - Sugere ele enquanto eu solto o ar pela boca.

- Me segura. Vc tá me deixando muito tonta. - Vou beijando seu pescoço até o ombro, apalpando suas costas macias e musculosas. - Quando vc treina? Antes ou depois de expulsar demônios? - Rindo ele beija minha bochecha até chegar bem no cantinho de minha boca e responde.

- Depois. Pra descontrair.

- A música acabou. - Observo encostando minha testa na dele. Estou a poucos centímetros de sua boca delineada, das covinhas que surgem. Aposto que ele está me ouvindo. Assentindo com a cabeça, ele beija o outro lado de minha bochecha e fica parado, abraçado a mim, olhando minha boca. Umedeço meus lábios, involuntariamente, massageando, com minhas mãos, sua nuca, o cabelo cortadinho. - Por que ainda não nos beijamos? 

- Porque não consigo parar de olhar pra vc, seus...

- Seios? Estão aqui e são todos seus. - Faço menção em retirar o sutiã, porém, ele me impede, prendendo-me pelos punhos atrás de minhas costas. Um brilho de malícia em seu olhar e estou em chamas. Fico na ponta dos pés e tento alcançar sua boca. Ele recua, sorrindo. - Vc não me quer? Esperei tanto por isso...

- Esperei mais do que vc, Dess. Esperei muito mais. Vc não faz ideia do tempo que esperei por vc e agora, preciso congelar sua imagem na minha cabeça pra nunca mais esquecer.



- Falando assim, me assusta. Parece que se me beijar, vai sumir da minha vida. - O brilho em seus olhos desaparece. Suas mãos estão em minhas bochechas quando ele me promete que nunca mais vai sair da minha vida. - Promete?

- Prometo.

- Vc acaba comigo com suas bruscas mudanças de humor. - Exalo, revirando os olhos. - Ainda me lembro da noite em que vc me acusou de ter te violentado.

- Deveria ter esquecido disso também.

- Também??? Como assim??? Eu me esqueci de outras partes da minha vida???

- Não, Dess! - Protesta ele, meio que irritado. - É força de expressão!

- Por que eu acho que não é???

- Porque vc pensa muito, Dess! Esse é o seu problema! Pensa muito! Colabora!

- Não me esconda nada, por favor...

- Não vou. Perdão por ter agido como um babaca naquela noite.

- Como eu posso deixar de te perdoar quando me olha desse jeito?

- Vou tentar te compensar, meu anjo.

- Não precisa. Eu já me esqueci. Pronto.

- Sua alma é pura, Dess.

- Não é não...

Fecho os olhos e, sem querer, penso em minha vida sem ele. Começo a chorar, pedindo perdão por ter estragado o clima. 

- Não sei ser mais quem eu era. Vc me apagou e, agora, vai ter que me reinventar. Gosto do que sou quando estou com vc. Não me deixa nunca.

Com os polegares, ele enxuga minhas lágrimas e quando penso em desistir, ele chama por meu nome e me pede.

- Deixa eu sentir seu gosto...agora?

Sua língua macia e gostosa invade minha boca com furor, pegando-me de surpresa

Sua língua macia e gostosa invade minha boca com furor, pegando-me de surpresa. Ele mordisca meus lábios, o queixo, o pescoço, voltando à boca, deixando-me atônita. Suas mãos não me deixam cair porque estão em todas as partes de minhas costas.

- Tira...- Peço num gemido. Ele não para de me beijar enquanto luta contra os ganchos do sutiã. Solto seu pescoço e eu mesma o arranco, jogando-o longe, sentindo meus mamilos roçando em seu peitoral. Estou gemendo de prazer, saboreando sua boca, chupando sua língua. Ele faz o mesmo até que eu perca o ar, tentando, desesperadamente, respirar. Ele afasta seu rosto e me pergunta com aquele olhar cafajeste que jamais vai sair da minha memória.

- Quer parar?

- Nunca! - Vendo-me na ponta dos pés, ele meio que facilita tudo, erguendo-me do chão, mantendo-me junto ao seu corpo, segurando-me pela bunda. Agarro-me ao seu quadril com minhas pernas cruzadas. Seu pau está tão duro que poderia me sentar nele e soltar minhas mãos. Ele ri e pede para que eu pare de ter pensamentos estranhos. - Não consigo. - Ronrono enquanto mordisco seu queixo, lambo suas covinhas e mergulho em sua boca. Faminta, eu o devoro. Beijo a ponta de seu nariz, os olhos fechados, a testa perfeita e seu tão desejado 'Pomo-de Adão'. Volto à sua língua e brincamos, lambendo nossos rostos para mergulharmos, juntos, em beijos demorados e melados. Alternamos a fúria e a calmaria até que ele vai descendo do meu pescoço até meus seios, beijando um ponto acima deles. - Chupa...- Imploro, gemendo.

De súbito, ele me empurra. Arregalo os olhos e, antes de cair, ele me segura pelas mãos. Meus braços estão esticados e seus olhos, hipnotizados.

- Fiz alguma coisa errada? - Insegura, excitada, pergunto.

- Nada. Tudo em vc é perfeito. - Sua voz ainda mais rouca me deixa ainda mais alucinada. Quero voltar aos seus braços. Ele me impede e pede. - Deixa eu ficar te olhando só um pouquinho? - Imobilizada, iluminada pela luz tênue do abajur ao lado do aparelho de som, eu o vejo cruzar as mãos em sua nuca e morder os lábios. PUTA QUE PARIU! - Não se atreva a se mover, Adessa Rossi. - Sorrio quando ele faz um quadrado com as mãos e me enquadra nele como se tivesse uma Polaroid super mega potente, tirando fotos minhas de segundo a segundo. - É o que eu estou fazendo. Gravando cada parte do seu corpo só pra mim. Não quero ter o que aqueles merdas tiveram. Quero ser o único. Quero ficar aqui e te ver por inteiro.

- Não seja por isso...- Retiro a calça do pijama ainda em dúvida se estou depilada ou não. Aaah! Sim! Putz! Depilei! Fui à praia ontem! Bendita praia! - Agora vc pode me ver por inteiro. Por que me olha assim? Não gostou? A propósito, meu sobrenome não é "Rossi". É Santoro. Vc não sabe tanto assim de mim. - Baixo os olhos, afetando profunda tristeza.

- Mas é o meu. - Um passo à frente e ele me envolve em seus braços. - Vincenzo Rossi. Quando se casar comigo, seu nome será Adessa Rossi, hai capito? - Agarrada ao seu pescoço, pulo e, com as pernas cruzadas em suas costas, grudo-me a ele, novamente. Encarando-o, eu demoro a entender o que ele acaba de me dizer. - Dess! Acorda! Por que tá chorando, meu anjo?

- Vc acaba de me dizer que meu nome terá o mesmo sobrenome que o seu? É isso? Quer dizer que que que que...

- Que vc é minha e eu, sou teu...'per sempre'. Casa comigo?

Segurando-me pelas pernas, ele me leva ao seu quarto que, injustamente, é bem maior que o meu

Segurando-me pelas pernas, ele me leva ao seu quarto que, injustamente, é bem maior que o meu. Sua cama é enorme. Mega ultra "Queen".

- O dono dessa cama é casado? - Nua sobre os lençóis com cheirinho de lavanda, não teria pior momento para uma pergunta tão fora do contexto, mas essa sou eu, sendo eu mesma. - Vamos foder na cama de um casal feliz? - Revirando os olhos, ele retira seu moletom. Sua cueca 'boxer' esconde um pau fenomenal. "ADESSA!", repreende-me ele. - Desculpa. Não vou olhar mais. Não vou pensar. Juro. Tá difícil!!! EU PRECISO SABER SE VAMOS TREPAR NA CAMA DE UM CASAL FELIZ!

- Fica calma, por favor. - Jogando-se na cama, ele quica. Acho fofa a maneira como ele lida com a nossa primeira vez. Um padre está mais calmo do que uma puta antes de trepar com ela. - Dess! Olha pra mim! - Estalando, três vezes, os dedos bem no meio dos meus olhos, ele me desperta e me irrita. Odeio isso nele! - O dono dessa cama não é casado. Ainda. 

- Não!?

- Não! - Afirma ele, arregalando seus obscenos olhos azuis. As covinhas voltam ao seu rosto quando ele complementa. - Ah! E meu pau não é fenomenal. É comum. Vc é quem o deixa assim. - Olhando para seu pau fantasticamente perfeito - e depilado - perplexa e ainda confusa, volto ao assunto da cama. - Não! Ele nunca trouxe a noiva aqui porque ele não é noivo...ainda.

- PORRA! Para com essa coisa de 'ainda'! Eu preciso saber disso porque eu tenho um código de conduta. É! Não faz essa cara de espanto por uma puta ter códigos de conduta! Eu não trepo com homens que me dizem que são casados ou que deixam escapar que são felizes e têm filhos. Eu trepava sem ouvir o que eles diziam. Caso soubesse que estaria destruindo um lar feliz, eu os expulsava da minha cama. Dá pra entender porque eu quero saber o lance dessa cama?

- Vc é incrível. - Estou deitada entre seus joelhos, meio que embasbacada com seu corpo, seu jeito carinhoso de olhar para mim. - Não é só carinho. É admiração. - Engulo em seco para não começar a chorar e quebrar a porra do clima que já quebrei umas duas vezes por causa da bendita cama. - Dess, a cama é minha. - Confessa ele em meu ouvido. - E antes que vc pergunte como a minha cama está na casa de meu amigo, preciso te confessar que menti. - Ele ri quando gaguejo antes de cuspir um: "Você mentiu!?" - Sim. A cama e a casa são minhas. Tá bom assim? - Beijando minha testa, ele se volta para o lado e fica lá, parado, olhando para o teto enquanto eu me odeio por ter exterminado todas as chances de foder com ele hoje. - Adessa!

- Fala. - Olhando para o mesmo teto, cobrindo-me com o lençol, aguardo sua repreensão. - Já sei. Fala!

- Nós não vamos 'trepar'. Vamos fazer amor...agora. 

- Aga aga aga agrrrr...PORRA! AGORA??? - Desde quando eu comecei a gaguejar!?

- Desde que se apaixonou por mim e me fez pensar em vc todos os dias da minha vida. 

Sinto o peso de seu corpo sobre o meu. Seu tórax esmaga meus seios que não doem mais, graças a ele que me curou das dores do corpo e do coração. 

- Te amo. Nunca pensei que diria isso a um homem, mas...te amo.

- Te amo. - Repete ele. Sua boca encosta na minha. Nossas línguas se movem num ritmo perfeito. Lento, molhado e longo. Beijos longos e melados até que seu membro 'desperte' e encontre o ponto certo onde entrar. - Me fode gostoso. - Suplico, gemendo, arqueando o tronco, a cabeça para trás, os olhos fechados, os pés enrodilhados de tanto tesão. Ele me penetra sem que eu sinta dor alguma. Então, me solto. Abro os olhos e encontro os dele, incisivos, sobre os meus. Como um padre fode tão gostoso!? - Adessa, para de pensar! - Geme ele, empurrando minhas pernas flexionadas, enfiando tudo, com força. Muita força e vontade. Gozamos juntos. Ouço seu urro ao se demorar dentro de mim. - Espera!!! - Ordena-me ele, deixando-me sozinha, na cama, olhando para o teto com um sorriso idiota estampado em meu rosto. - PRONTO! - Gargalho quando o vejo trazer um rádio portátil e fincá-lo na mesinha de cabeceira. - MÚSICA! MUITA MÚSICA! 

- Por que isso? - Conhecendo a resposta, olho para o seu pau ainda ereto, a mão sintonizando sua estação preferida. O volume máximo não me deixa ouvir sua resposta. - Não entendi!

- PERFETTO! - Seu sotaque italiano é bem melhor do que o meu. Voltando à cama, ele me beija com sede e vai descendo até meus seios, chupando-os e lambendo-os ao redor das minhas aréolas. Isso me deixa maluca! Nuusss! Gozo novamente, rindo do que ele acaba de gritar. - Pensa, Adessa! Pode pensar no que quiser agora porque eu definitivamente  NÃO-VOU-TE-OU-VIR!!!



Foram os melhores dias da minha vida. 

Tomávamos café na cama para não perdermos tempo. Voltávamos a trepar 'com amor' até que nossas forças se esgotassem. Aonde quer que eu fosse, lá estava ele, mordendo meu pescoço, lambendo minha boca ou roçando seu pau gostoso em minha bunda. Nada sobrara do padre que se mantinha distante por amor a um credo.

Conhecera cada pedacinho de seu corpo, de seu hálito matinal. Nada nele era imperfeito. Gemia de prazer a cada toque, então, ele me calava com seus beijos cada vez mais devassos, demorados, molhados, absolutamente devastadores.

Fazíamos amor na praia deserta. Corríamos um do outro como crianças até que ele me pegasse e me levasse para dentro do mar.

"Isso vai te custar caro", ameaça-me ele enquanto eu rio e me lembro do mega show de interpretação que eu dei, fazendo-o acreditar que queria me matar quando o que eu mais desejava, era voltar a viver. Melhor! Começar a viver de verdade. 

- Faz de novo! - Peço, agarrada em seu pescoço, lambendo seu ombro salgado pela água do mar onde estamos submersos quase que totalmente. - Teu pau é tão gostoso. Puta que pariu! - Emito gemidos em sua orelha e enfio minha língua em seu ouvido. Ele meio que enlouquece e me leva até a areia, onde me deita. Sou dele. Completamente dele. Sou dominada por ele e, por ele faria qualquer coisa. Sinto que estamos ligados desde sempre. - Me fode! Vai! Me rasga ao meio! - Berro ao vento enquanto meu corpo vai e vem com suas estocadas cada vez mais selvagens...violentas.

Gosto disso. 

Antes dele, não havia vida

Antes dele, não havia vida. Somente a Escuridão. Agora, acordo querendo viver. Viver ao lado dele...para sempre.

Ele se torna mais rude a cada vez em que fazemos amor. Um sexo despudorado e lascivo. Adoro o jeito como ele me trata. Ele faz questão de me satisfazer antes dele. Diz que a minha satisfação é sua prioridade. Então, ele urra como um insano quando chega ao ápice. Ele sorri, estranhando tudo e gostando de tudo também. Creio que ele jamais havia feito algo assim com sua ex-noiva. A vaca que o traiu.

PERDEU! AGORA ELE É MEU, VADIA!

PERDEU! AGORA ELE É MEU, VADIA!

E eu...sou dele. Completamente dele! Não sei o que faria sem ele. Sequer penso nisso. Isso nunca vai acontecer. Ele me prometeu. Ele vai cumprir.

Eu sei que vai.

Deitados na cama, exaustos, conversamos sobre tudo. Pergunto sobre o que faremos quando voltarmos às nossas vidas na cidade. Digo a ele que resolvi tentar trabalhar como modelo ou algo assim. Juro que nunca mais treparei com mais ninguém além dele. 

- Sério!? - Amo sua expressão de contentamento quando ele para de me acariciar e me olha, por entre as minhas coxas. Passo a mão em seus cabelos já sem corte, jurando que sim.  

- Como serão as coisas lá na igreja? - Ele meio que desconversa sem vontade de pensar em algo que, certamente, vai gerar grandes decisões. - Vc pode continuar a ser padre e se casar comigo?

- Não, meu bem. Não. - Sentado na beira da cama, de costas para mim, ele admite. - Não sei o que fazer sobre isso, mas vou dar um jeito. Prometo. A única coisa que sei...- Então ele se volta para mim, deitando-se ao meu lado, apoiando a cabeça em seu cotovelo, afofando meu travesseiro, os olhos perdidos em mim. - Eu não vou ficar sem vc. Não mesmo.

- Promete?

- Prometo.

- Por que me trouxe pra cá? Como soube que Ga'al não me seguiria até aqui?

- Dess, para de falar um pouco. Tô tentando descansar, mulher.

- Diz! - Belisco seu braço. - Como ele não entraria aqui? O que vc fez pra que essa casa fosse tão protegida?

- Magia. Lembra quando eu cuidei dos seus ferimentos com unguentos e poções? 

- Sim!!!

- Ocorre o mesmo com a casa. Ela é abençoada por meus superiores e protegida por Magia. Nada que não tenha o coração puro pode ultrapassar o batente da porta.

- Uau...- Pensativa, fico olhando para o teto enquanto ele tenta dormir. - E quanto aquela pintura a óleo na parede!? - Com sono, ele resmunga. - Só me diz isso. Só isso e paro de falar. - Num movimento, deixo meus seios à mostra, o que o faz acordar e a massageá-los sem perceber que isso me 'acende'. Se ele quer dormir, esse é o pior caminho. - Quem é aquele que está de pé, atrás de uma mulher belíssima com um ar de tristeza em seu semblante, extremamente parecido com vc?

- Que retrato, Dess? - Tocando em meus seios, ele tenta me fazer parar de pensar nisso, mas, ainda que mega excitada, eu continuo a falar sobre o retrato até que ele me diz algo surreal. - Sou eu. - Afastando-o com meus braços, eu me recosto à cabeceira, chocada. - O que foi?

- Como 'o que foi'??? Aquela pintura é do século XVII ou anterior a ele!!! Ou vc tem uns 400 anos e está super mega conservado ou aquilo foi alguma fantasia do pintor!

- Como 'o que foi'??? Aquela pintura é do século XVII ou anterior a ele!!! Ou vc tem uns 400 anos e está super mega conservado ou aquilo foi alguma fantasia do pintor!

- Dess...fica quietinha. Fica?

- Não fala comigo assim! Eu tô querendo saber de algo que tá me atordoando desde que a gente chegou aqui e, agora que estamos super íntimos, posso te perguntar! Ou não!?

- Sim! - Diz ele, exultante, abrindo seus olhos azuis cheios de desejo. A pintinha no canto esquerdo, logo acima da boca, me faz arfar. Desistindo de dormir, ele meio que pensa no que vai me dizer e argumenta, desconfortável. - Então. Um amigo do mosteiro. Ele adora desenhar pessoas e paisagens dos séculos passados e me revelou que eu já tive um amor naquela época. Daí, ele pintou aquela tela em minha homenagem. Uma história fantástica, né? Satisfeita!? Posso voltar aos seus peitos deliciosos ou não?

- Não! Não são peitos porque não sou galinha! São seios!!! - Puxando-o pelo cabelo, eu o trago até minha boca e exijo um beijo sufocante. Sei que ele mentiu, mas não quero quebrar o clima gostoso de mais um dia com ele. - Cara! Vc é um padre diabólico! - Penso alto enquanto ele me deixa sem ar, beijando-me ao mesmo tempo em que ele volta a me penetrar.

Só saímos do quarto para tomarmos banhos juntos, jantarmos juntos e irmos ao mercado...juntos.

Estou no paraíso...

Estou no paraíso


Em nossa última noite em sua casa na praia, eu preparo o jantar. Apesar das constantes 'interrupções' de seus abraços voluptuosos enquanto estou na pia da cozinha, minha lasanha ao molho branco ficou perfeita. Vou ao banheiro a fim de lavar minhas mãos e ele está atrás de mim com suas mãos abrindo espaço entre minhas coxas, fodendo-me com fúria e amor. Agarro-me na pia, observando meus seios balançando. Estão maiores do que antes ou eu estou ficando louca?

- Vamos comer? - Proponho.

- Vc!? - Beijo sua boca e, rindo, eu o empurro de volta à cozinha enquanto ele reclama. - Só mais uma vez! Por favor!

- Amo todas as suas trinta expressões em seu rosto. Essa de 'menino pidão' é uma das mais fofas. - Beijo suas covinhas e ordeno, como uma mãe o faria a um filho manhoso. - Vá! Come! Agora! Um...dois...três!

- Além de linda, gostosa, vc cozinha muito bem!

- Imagina!!! - Finjo despreocupação. - É vc que está faminto. Coma mais um pedaço.

- Se vc comer comigo, eu topo. - Com a espátula em prata, coloco em seu prato o penúltimo pedaço e, no meu, o último. - Come, amor. Vc não tem comido direito. Pensa que não reparo?

- Não não nada a ver! - Minto, empurrando um pedaço da lasanha garganta adentro. - Pra vcs, homens, é tudo bem mais fácil. Não surtam como nós, mulheres. Se eu olhar pra um doce, já engordo uns dois quilos. 

- Seu corpo é perfeito. - Ronrona ele, alcançando minha mão sobre a mesa, puxando-me para si, dando um selinho em minha boca. Ao som de "Photograph", de Ed Sheeran , posso pensar sem medo de ser ouvida por ele, embora seu olhar pareça captar cada palavra que formulo em minha mente, em meu coração que dói a cada hora que passa. 



Daqui a poucas horas, voltaremos à cidade e, talvez, tudo continue como está...ou não. Talvez, eu não esteja com apetite porque não quero vomitar novamente, escondendo-me dele, trancando-me no banheiro, dizendo que está tudo certo. Mas não está. Não tenho certeza, mas talvez, eu tenha um outro 'serzinho' dentro de mim. Alguém que já amo mais do que a mim mesma. Talvez, eu os perca a ambos quando voltarmos à cidade ou seja feliz para sempre, junto à minha nova família. A música acabou. Corro para o quarto enquanto ele vem atrás de mim. Não quero que ele me ouça!

- Por que tá chorando, amor? - Agachado, apoiado em meus joelhos, ele me fala com ternura enquanto estou sentada na beira da cama. - Nada vai mudar. Eu juro. Voltaremos aqui em pouco tempo, ok? - Seus polegares voltam a enxugar minhas lágrimas enquanto eu mancho a selfie que tiramos na praia. Eu pedi para que a revelassem em um estúdio próximo à cidade vizinha, mais habitada e moderna do que essa de onde vamos partir daqui a pouco. - Vc tá pálida. Quer se deitar? Eu arrumo tudo na cozinha e volto pra dormir com vc até a hora de irmos. Ok?

- Vc é meu anjo. Sabia? - Digo, entre soluços. - Desculpa. Eu não consigo parar de chorar. Tô com medo. Eu nunca fui tão feliz na vida. Não quero perder isso que a gente tem. Não quero. Não posso.

Ele me cobre com seu edredom. Tem seu cheirinho de 'maçã verde'

- Fica comigo. - Peço.

- Fico. - Promete-me ele. Ele cumpre sua promessa até que eu durma de tanto chorar, sem tirar os olhos da nossa foto.

Eu não quero partir. Algo me diz que tudo vai mudar e, minha intuição nunca erra.




Tudo pronto. Todas as nossas coisas estão no porta-malas do carro, mas eu o evito o quanto posso. Não quero entrar em seu 'fusquinha' simpático', herdado de seu pai que deixara, igualmente, essa casa para ele. Além de uma boa soma em  grana em seu banco. Meu homem, além de padre é rico. Como ele vai fazer para deixar de ser padre? Por que pastores, rabinos  podem se casar e padres não? 

- Em que essa cabecinha de minhoca tá pensando?

- Em nada. Vc não ouviu?

- Não. Estava longe. Não sou tão poderoso quanto vc pensa. - Sentando-se na areia, ao meu lado, ele se põe a admirar o horizonte, assim como eu. - Por que parou de pensar, Dess? Isso me assusta.

- Sabe o que descobri? 

- Não. 

- Que somos uma dupla dinâmica. Vc ouve pensamentos. Eu sinto o que os outros pensam ou sentem. Podemos enriquecer com isso. Que tal?

- Quando desenvolveu sua faculdade?

- Minha maldição?

- Dess...

- Ué. É assim que sinto. - Sorrindo, ele pergunta.

- Vc consegue sentir e ouvir ao tocar em algum objeto ou pessoa?

- Sim. Nunca parei pra pensar nisso, mas sempre capturava as impressões de lugares e pessoas e até de móveis antigos. Bizarro, né?

- Não. Penso que vc seria bastante valiosa em nossa equipe de exorcistas. Vc poderia...



De súbito, ele para de falar ao mesmo tempo em que enfio minha cabeça entre minhas pernas flexionadas, pressionando meus braços contra minha cabeça. Não quero ouvir nada do que ele tenha a dizer sobre os padres que o tomarão de mim. NÃO! NÃO FALA, POR FAVOR!

- Dess, eu vou conversar com eles e, com certeza, eles vão me entender e me liberar dos votos que fiz. 

- Não vão não...

- Vão! Eu te garanto! 

- Ele disse que não. E eu, confio nele.

- Ele quem??? - Espantado, Vincenzo olha ao redor à procura de alguém e nada encontra. Meio que inseguro, ele repete a pergunta. - Ele quem, Dess???

- Ele disse que eu posso chamá-lo de Louis, mas seu nome é outro. Disse que vc o conhece muito bem e que nós dois não ficaríamos juntos porque ele te odeia.

- Que merda é essa, Dess!? - Amedrontado, ele aumenta o tom de voz. - Fala comigo! O que vc tá vendo!? Quem está perto de vc!? É Ga'al!?

Movendo a cabeça de um lado para o outro, Vincenzo se irrita e se levanta. Grita contra o vento, evocando Ga'al que está tão longe daqui quanto Miguel, meu arcanjo. Sem respostas, ele se ajoelha na areia e com o medo estampado em seu rosto angelical, ele implora. 

- Dess, fala o nome dele. Eu preciso do nome para expulsá-lo daqui.

Ergo a cabeça e, olhando em seus olhos, enxergo o desespero de quem já falhou uma vez e não quer falhar novamente. Ou será que estou me enganando? Ele fala a verdade?

- Dess! O nome!

O vento sopra, furioso e as ondas se chocam contra a areia e deslizam, branquinhas, até nossos pés. Há uma tempestade chegando porque há nuvens escuras e pesadas sobre nossas cabeças.



Um presságio, um aviso.

- Dess!!! Acorda!!! - Abano a cabeça e saio do transe e então entendo o que ele deseja. - O nome dele! Qual o nome desse ser que se comunicou com vc e disse que me odeia!? Fala! Por favor, fala!

- Louis Far...- Respondo, sem forças. Ele repete por diversas vezes o que lhe disse até chegar a um nome que faz muito sentido em sua vida. Ele me conta que já estivera frente à frente com ele e que, agora, faria de tudo para nos salvar de suas artimanhas.  - Que artimanhas? Ele era legal. Só me disse que não ficaríamos juntos...

Um raio cruza o céu no momento em que Vincenzo o desafia a aparecer diante dele. O som do trovão me assusta, logo, me encolho, observando a mudança brusca nas atitudes do homem que amo. Sempre pacífico, agora, ele desafia algo invisível aos seus olhos.

- Lúcifer!!! - Berra Vincenzo segundos antes da chuva desabar contra nossos corpos. Por segundos, ele se esquece de mim e parece aguardar por algum rival, parado, olhando para o céu. Por que tanto ódio por Lúcifer? Por que não consigo me lembrar do motivo? Ele já me contou algo sobre Lúcifer e ele!? - NÃO PENSA, DESS! - Arrasto-me até a parte mais alta da areia onde corremos, felizes e despreocupados,  há poucos dias. Levanto-me, sem tirar os olhos dele. "Lúcifer!", repete ele como a invocar o nome do 'anjo caído' do qual pouco sei. Talvez, se ele olhasse para mim, exatamente agora, ele o encontraria, bem ao meu lado, rindo-se do meu Vincenzo. - Apareça! Não ouse tocar nela! Ela é pura e não vai pertencer a vc, jamais!

- Seu namorado é um tanto dramático, não é?



- Ele é meu homem. -  Encarando seus olhos faiscantes, eu o confronto. - Não pense em tocar nele ou eu acabo com vc num piscar de olhos. Entendeu?

- Uh-huh. Eu não duvido. Então, está disposta a perdê-lo?

- Se for para o bem dele, sim.

- Vc confia nele. Não é?

- Confio. Por que me olha desse jeito?

- Porque é burra. Há tanta coisa a ser descoberta, querida. Uma longa história pela frente. Que cansaço...- Assombrada e irritada, ordeno.

- Suma. Deixe-nos em paz. 

- Eu me submeto às suas ordens, meu bem. Só por hoje. Estou exausto. - Antes de sumir por completo, ele me avisa para ficar atenta. Sua voz cantarola a mensagem que me faz tremer de medo. - Ragnar está de volta. Vcs irão se encontrar e vc não o reconhecerá. Toma cuidado. Ele é absurdamente irresistível.

Meu coração bate, descompassado. Quando Vincenzo me encontra jogada na areia, aos prantos, ouve uma mentira.

- Tô com saudades daqui. Só isso.

- Ele voltou a aparecer? Lúcifer voltou a aparecer!?

- Fica calmo. Não devia ser ele. Vc acha que um ser tão poderoso e super cultuado entre seus súditos apareceria justo pra mim? - Sorrio enquanto choro. - Me abraça. Por favor, abraça.

- Vc tá tremendo, amor.

- Me abraça e não me deixa nunca. Promete?

- Prometo.

Lembro-me de um trecho da canção de Ed Sheeran e, dentro do carro, cantarolo baixinho, sem deixar que ele me veja chorar. 

"So you can keep me inside the pocket of your ripped jeans" - Ao volante, Vincenzo promete.

- Dess, eu não vou te deixar. Acredita em mim.

- Acredito.

Odeio ser burra.


Continua...

EPÍLOGO

  Abro os olhos. Encaro o teto do quarto, tentando não me recordar do sonho. Um sonho ruim. Chove lá fora. Dentro do quarto, faz frio. Meu c...