Ga'al me dera de tudo como havia prometido. Vivo em festas com gente rica, bacana. Gente com quem me relaciono intimamente e ganho muito com isso. Não é só pela grana. São os contatos mega importantes que me ligam a outras pessoas super importantes que me fazem ganhar ainda mais. Não sou do tipo que joga dinheiro fora, logo, eu o aplico em investimentos indicados por meus clientes. Posso dizer que já tenho o bastante para comprar uma casa na praia e ficar 'de boas', por lá, sem fazer nada para ninguém. Um dos meus sonhos é morar em uma pequena cidade na Itália ou Irlanda e escrever sobre minha estranha vida. Em breve, com a grana que tenho ganhado, creio que vou conseguir, caso, Ga'al não acabe comigo antes. Sua fome por sexo é insuportavelmente inextinguível.
Por que eu!? Há tantas mulheres no mundo! Por que ele escolheu a mim?
COMO MINHA MÃE ME DEIXOU SOZINHA COM AQUELE VERME???
Ele sabe que gosto disso. Ele pressente quando estou excitada e seus dedos tocam no lugar exato, esfregando-o em todas as direções até me enlouquecer e me fazer gozar múltiplas vezes. Quando isso acontece, ele ri de mim. Ele gosta de me usar e eu gosto de ser usada por ele. Há momentos em que gostaria de ter uma amiga. Alguém com quem desabafar. Existe uma garota com quem trabalho. Dançamos na mesma boate. Por vezes, bebemos juntas e relaxamos. Ela tem duas filhas adoráveis. Eu...eu tenho um demônio. A vida é justa? Não. Se fosse, ela não precisaria se vender a fim de sustentar as filhas. Finjo não perceber seu interesse por mim. Não curto transar com mulheres. Em filmes, tudo bem. A grana é boa. Descobri que mulheres que transam com mulheres, no mundo da pornografia, ganham mais. Mas, isso não me atrai. Na verdade, nada nessa vida me atrai além do dinheiro.
Na verdade, ela nunca foi minha amiga.
Mas, isso, eu descobriria anos depois.
Ter um ser demoníaco em sua vida nada tem de glamouroso. É incômodo. Estar sendo sempre vigiada, usada, violada. Ainda me pergunto como eu fui tão burra a ponto de ir àquela lareira na maldita noite em que o encontrei pela primeira vez.
Ergo-me do sofá e entro no clima. Caminho nua pelo set de gravação onde sou apalpada pelos homens que me veem passar. Não estava no script, mas o diretor me incentiva a continuar. Trata-se de uma cena onde sou atacada por homens num bar. Uma cena clichê. Adoraria criar cenas onde danço e sou aplaudida por algum homem solitário que queira conversar comigo antes de transar.
ACORDA!
Sou empurrada para longe da mesa de sinuca onde jogava sozinha e tenho meu vestido rasgado por dois deles. Peço que parem. Peço por socorro, mas sou levada até um sofá em couro onde me jogam, seminua. Sou puxada pelas pernas até o espaldar do sofá onde somente meu tronco fica nele. Tento escapar, xingando-os, movendo meu tronco de um lado para o outro. Um deles crava sua mão em meu pescoço e mostra seu pênis ereto, então, tudo se repete. Dois ou mais homens se revezam dentro de mim e eu finjo gostar e 'blá blá blá'.
Tudo por dinheiro e nenhuma emoção.
Passara de 'Garota de Programa' à 'Rainha de Filmes Pornôs' do dia para a noite.
Ou seria o contrário?
Ga'al, com sua fome por sexo, despertara meu pior lado e me fizera adoecer.
"Ninfomania", explica a ginecologista em quem eu confio. Estou chocada com seu diagnóstico sobre meu gosto exagerado em ser sodomizada.
- Transtorno do Desejo Sexual Hiperativo.
- E como posso me curar...digo...se um dia eu quiser parar com tudo?
- Internando-se em uma boa clínica, com acompanhamento de psiquiatras e psicólogos. Quando quiser parar com tudo, Adessa, me avise. Eu estarei aqui pra te ajudar.
De volta ao meu apartamento luxuoso, tão vazio quanto meu coração que estranhamente passara a sentir falta de algo que não conheço, penso no diagnóstico da ginecologista e me nego a acreditar que esteja doente.
Que tipo de viciado assume seu vício? A menos, que esteja à beira da morte. Ainda assim, o cérebro pede por mais. Mais bebida, mais cigarro, mais cocaína. Mais pornografia. Mais celular. Mais adrenalina.
Estudos da Neurociência afirmam que se o viciado conseguir se privar de seu vício pelo período de trinta dias, o cérebro deixa de pedir por mais dopamina e, talvez, ele consiga se curar. Talvez, se eu conseguisse ficar longe de sexo por esse tempo, eu poderia ser alguém normal.
Diante do espelho, já não enxergo a garota que se formou em Educação Física e sonhou em lidar com crianças.
- Me deixa dormir. - Imploro a Ga'al que volta a me acender com sua língua, mãos, dedos e seu pau enorme e quente dentro de mim. Noites se repetem sem que ele desista de mim. - De onde eu te conheço?
- Não importa. Tu és minha e eu sou teu. É tudo do que precisas saber.
Falto às aulas na faculdade de Psicologia por não ter forças para me levantar da cama onde ele me mantem presa. Penso em uma maneira de me livrar dessa maldição. Como tudo começou? De onde ele me conhece?
Ao final, eu entenderia tudo.
Francamente decidida a limitar o acesso de Ga'al em minha vida, leio livros sobre Magia, Bruxarias e Feitiços.
Encontro algo em um site sobre o assunto. Bruxas reverenciam sua deusa, duas vezes ao ano e, uma dessas vezes será daqui a alguns dias.
Sem que Ga'al consiga ler meus pensamentos, envio mensagens ao grupo que me acolhe de braços abertos.
"Nós te libertaremos dele!", promete-me a administradora do grupo e sacerdotisa que, em breve, conhecerei, pessoalmente.
Parecendo pressentir minhas intenções, Ga'al me machuca mais do que das outras vezes. Há raiva em seu olhar enquanto me faz sacodir com suas estocadas intermináveis. Ardendo por dentro, peço que pare. Imploro. Suplico. Gargalhando, ele continua a me invadir e, com os punhos cerrados, soca meu rosto, surpreendendo-me, o que aumenta...triplica a minha intenção em me livrar dele.
Para sempre!
Por vezes, penso que ele quer se vingar de algo ou alguém.
Por vezes, pressinto algo de humano nele.
Cá estou em mais uma clareira onde uma grande fogueira acesa parece querer me dizer algo. Se ouvisse, uma segunda vez, minha intuição, correria daquele lugar.
Esquece. Ainda tenho muito a aprender.
Encontro-me com as bruxas que, supostamente, me libertarão de Ga'al. Estou doente. Já não consigo estudar ou me alimentar graças a ele que não me deixa em paz.
E, quando estou sozinha, a compulsão por sexo me toma por inteiro. Ainda que me odeie por isso, gravo a mim mesma enquanto me toco diante da tela do meu celular onde quer que eu esteja. Vídeo pronto e postado. Dinheiro depositado e meu coração dilacerado pela culpa.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO???
Eu costumava gostar de ser puta!
- Seja bem-vinda, Adessa. Vc está bem?
- Perdão. Eu não te ouvi. - Cumprimento a mulher com os olhos penetrantes e escuros como a noite. - Eu...eu não sei o que fazer. - Confesso, insegura.
- Não faça nada até que eu a mande fazer. Confia em mim? - E eu tenho escolha??? - Confia?
- Sim. - Minto. - Claro que sim.
- Venha! - Puxa-me a mais nova das mulheres ao redor da fogueira. - Se solta! Beba e dance conosco! - Claro. É tudo o que não devo fazer. Ficar bêbada em frente ao fogo tendo um bando de mulheres malucas e nuas se atracando como gatas no cio. - Venha, 'sua linda'! - Convida-me uma delas. Contrariando minha intuição, num instante, estou entre elas.
"Há Magia nele", avisa-me a mais fogosa. Entre as três, deixo-me tocar e sinto um prazer diferente de tudo que sentira antes. Após me deitar ao lado da fogueira, tonta, pergunto o que devo fazer para matar Ga'al de uma vez por todas.
A mais velha observa-me enquanto me perco na orgia onde estou mergulhada. Ansiosa, ela espera que eu atinja o orgasmo uma vez mais e, com seus dedos longos, colha o líquido e o guarde em um cálice em ouro com minuciosos detalhes de caveiras entalhadas em seu bojo. Há Magia em tudo e em todas. Um tipo de Magia suja. Não a Magia com que sempre sonhei. A Magia onde vejo uma linda garotinha com asas de borboletas. Asas púrpuras. Faz tempo que não sonho com ela. O que estou fazendo aqui? Não é o meu lugar. Tenho nojo.
De volta ao inferno, ouço os uivos e gemidos das mulheres ao meu redor. De repente, a sacerdotisa pede por silêncio. Saio do transe e, cambaleando, vou até o lago onde desejo me limpar. A mulher velha e irritante me impede, puxando-me pela mão. - É preciso ter cheiro de sexo para atraí-lo. Venha. Chegou a hora. - O que devo fazer? - Receosa, pergunto. - Que palavras devo usar? - Eu te direi assim que ele gozar em você. Adessa, vc realmente deseja se libertar desse demônio? - Com todas as forças da minha alma. - Assevero, deitando-me sobre a pedra de sacrifícios. Além de nojo, tenho medo. Todas me cercam. Outro orgasmo e, mais uma vez, a mais velha colhe meu líquido. Isso é repugnante. Prefiro os filmes que gravo. São mais higiênicos. Mais uma vez, pergunto-me o que estou fazendo aqui. Meio que dopada, questiono. - Pra que serve isso? - Vc vai ver...- Seu sorriso é macabro, mas preciso confiar nela porque já não suporto a presença daquele verme em minha vida. - Ele está chegando. - O que eu faço!? - Entregue-se a ele.
Eu a obedeço deixando que Ga'al me penetre pela última vez.
Ao menos, era essa a intenção.
Ouço o som do trovão ao longe. Os pingos da chuva molham meu corpo e caem em minha boca aberta. Sobre mim, Ga'al repete seu ritual de brutalidade. Seu aspecto é terrível. Sobre a pedra, ele despeja seu líquido quente dentro de mim. Confusa e dolorida, ainda consigo ver a bruxa mais velha colher seu gozo e juntá-lo ao meu, no cálice de ouro. Enojada, vomito sobre a pedra. Ao nosso redor, as mulheres dançam e giram enlouquecidas. Cantam em um dialeto que desconheço a canção "Dessumiis Luge". Eu a conheço por conter maldições em sua letra, tornando tudo ainda mais bizarro.
Tudo acontece ao mesmo tempo, em uma perfeita sincronia. Uma das mulheres solta um grito de horror ao final da canção enquanto Ga'al vai perdendo a forma até se esvair por completo, sugado por um espaço aberto acima de nossas cabeças. Uma espécie de buraco negro o engole e se fecha antes que ele possa me amaldiçoar. - Acabou? - Sussurro totalmente devastada. - Sim. - Garante-me a bruxa mais velha cujos olhos brilham tanto quanto os de Ga'al. - Descanse. Vc está livre dele...até que o outro tome seu lugar. Outro??? Que outro??? Quero gritar, mas, sem forças, desmaio.
Ga'al desaparecera de minha vida desde aquela noite sinistra. Pensei estar curada do meu vício longe dele, mas...eu me enganei.
Continuo a dançar e tirar a roupa no 'California', a boate mais famosa da cidade por suas strippers fogosas, e a sair com meus antigos clientes. Meu apetite por sexo não fora amenizado na ausência de Ga'al, o que me faz pensar que o mal não estava nele e sim, em mim.
Eu sou o meu mal. Sou a minha doença. Sou a compulsão por transar com qualquer um aqui, nessa festinha onde estou nesse exato momento.
Danço sozinha na pista enquanto o garçom não para de me oferecer garrafas e garrafas de 'Ice' já abertas sem retirar um sorriso esquisito de seu rosto. Ainda não compreendo o porquê de ter aceitado o convite de Sweet.
Queria estar dormindo em minha cama.
Arfando, descanso minhas mãos nos joelhos estranhando meu súbito cansaço. Cerro os olhos e, ao abri-los novamente, estou deitada em um colchão imundo, em algum lugar claustrofóbico. Corpos, rostos embaçados. Risos, urros de vitória e meu corpo é empurrado contra a parede. Leva um tempo até que eu consiga entender onde estou e o que estão fazendo comigo. - NÃO! - Grito cheia de ódio. - EU DISSE NÃO! Gargalhadas e um coro de "mais um!" me fazem pensar que nós, mulheres, não temos direito ao nosso corpo. Em teoria, eles deveriam parar de me violar, no entanto, eles continuam com mais força, um após o outro enquanto grito por socorro. Um deles tapa minha boca com sua mão imunda. Um outro, estapeia minha face, meus seios, rindo de si mesmo. Enjoada e com dor, vomito em um deles assim que liberam minha boca. Um soco me faz cuspir sangue. Estou prestes a desistir quando eu o ouço pela primeira vez...nessa vida. - BANDO DE COVARDES! - Grita ele, colérico enquanto tento abrir meus olhos inchados, doloridos. - Me ajuda...- Suplico, estendendo o braço em sua direção. Sua sombra é cheia de luz. Luz que cega meus olhos semiabertos. - Eu não quis... - Eu sei, meu anjo. Vc foi dopada. Vem... Levando-me em seu colo, ele beija o topo de minha cabeça e me faz acreditar que tudo vai mudar quando promete. - Eu nunca mais vou deixar que te machuquem. E eu acreditei.
Eu o procuro por toda parte, ainda que não o tenha visto. Lembro-me de seu perfume cítrico e da voz grave e cheia de ternura. Por que não abri meus olhos e fixei sua imagem em minha mente quando ele me socorreu?
Porque eu estava bêbada, drogada e havia acabado de ser violentada por tantos homens que, sequer, tenho ideia da quantidade? Por que meus olhos não se abriam, por mais que eu tentasse?
Após semanas à sua procura, volto ao local da festa e tudo o que consigo é um convite para outra festinha animada como aquela onde fui salva pelo homem que procuro, ansiosamente. "Pagam quanto?"
Sem o menor escrúpulo, aceito o convite para uma outra festa onde me comprometo a transar com, pelo menos, quatro homens. O valor é mega alto e ainda resta a esperança de reencontrar o 'carinha' que está me tirando o sono. Dessa vez, eles não me drogam enquanto me prendem à cordas. Tenho medo de perder o controle e, principalmente, de não ter ele aqui para me salvar e me levar a casa.
Mais uma vez, eu me deixo usar e me perco entre bocas, mãos e línguas que saciam sua fome lasciva em mim. Enquanto vou tirando a roupa, tendo ao meu redor homens tão doentes quanto eu, penso no meu salvador que, talvez, esteja entre eles.
Outro erro. Outro grande erro em minha lista imensa de erros cometidos.
Talvez seja um erro procurar por ele. Talvez eu deva me perder em outras mãos porque as dele são santas e jamais tornariam a me tocar.
Talvez, eu deva morrer porque, somente então, eu estarei livre da ninfomania que me mata, aos poucos.
Olho para a cartela de ansiolíticos ao lado da garrafa de vinho. Descarto seis comprimidos e os jogo em minha boca. Desesperançada, sozinha, culpada, tomo o primeiro gole do vinho quando o ouço em minha mente.
"Não faça isso! Por favor! Cuspa agora!"
Mais pelo susto do que pela razão, enfio dois dedos em minha garganta e vomito o que não chegara a ser engolido.
- Quem tá aí, porra!?
Pergunto enquanto olho ao redor. Não há nada. Ninguém em meu quarto além de mim e de minha tristeza e ansiedade crescentes ao ouvir sua voz repetir.
"Eu nunca mais vou deixar que te machuquem".
Durmo, repleta de alegria, com um sorriso patético em meu rosto.
Ao acordar, tento me lembrar de quando eu me comprometi com Ga'al e não me recordo.

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