quarta-feira, 20 de abril de 2022

CAPÍTULO 2 - O PACTO





Ga'al me dera de tudo como havia prometido. Vivo em festas com gente rica, bacana. Gente com quem me relaciono intimamente e ganho muito com isso. Não é só pela grana. São os contatos mega importantes que me ligam a outras pessoas super importantes que me fazem ganhar ainda mais. Não sou do tipo que joga dinheiro fora, logo, eu o aplico em investimentos indicados por meus clientes. Posso dizer que já tenho o bastante para comprar uma casa na praia e ficar 'de boas', por lá, sem fazer nada para ninguém. Um dos meus sonhos é morar em uma pequena cidade na Itália ou Irlanda e escrever sobre minha estranha vida. Em breve, com a grana que tenho ganhado, creio que vou conseguir, caso, Ga'al não acabe comigo antes. Sua fome por sexo é insuportavelmente inextinguível.

Por que eu!? Há tantas mulheres no mundo! Por que ele escolheu a mim?
"Porque vc gosta de ser puta", dissera-me ele enquanto me penetrava. Pedi que me desse um tempo porque eu precisava trabalhar, descansar, estudar. Coisas que os humanos costumam fazer. Coisas que demandam um certo tempo. Tempo que ele usava para me violentar quase todas as noites. E, para falar a verdade, descobri que sinto prazer em ser acordada dessa forma brusca. Talvez algum trauma de infância deixado pelo amigo de meu pai - aquele filho da puta - que abusara de mim enquanto todos dançavam na sala ao lado do quarto onde tudo aconteceu.
COMO MINHA MÃE ME DEIXOU SOZINHA COM AQUELE VERME???

Pobre mãe. Sua paixão doentia por meu pai a levaria a um final devastador.


Foi difícil persuadir Ga'al a me dar uma folga, mas consegui. Combinamos que seria dele quando voltasse à minha casa desde que ele parasse de me seguir ou me tocar enquanto estivesse trabalhando ou trepando com outros caras. Ele meio que aceitou, mas ainda assim, por vezes, eu era surpreendida.

Ele sabe que gosto disso. Ele pressente quando estou excitada e seus dedos tocam no lugar exato, esfregando-o em todas as direções até me enlouquecer e me fazer gozar múltiplas vezes. Quando isso acontece, ele ri de mim. Ele gosta de me usar e eu gosto de ser usada por ele. Há momentos em que gostaria de ter uma amiga. Alguém com quem desabafar. Existe uma garota com quem trabalho. Dançamos na mesma boate. Por vezes, bebemos juntas e relaxamos. Ela tem duas filhas adoráveis. Eu...eu tenho um demônio. A vida é justa? Não. Se fosse, ela não precisaria se vender a fim de sustentar as filhas. Finjo não perceber seu interesse por mim. Não curto transar com mulheres. Em filmes, tudo bem. A grana é boa. Descobri que mulheres que transam com mulheres, no mundo da pornografia, ganham mais. Mas, isso não me atrai. Na verdade, nada nessa vida me atrai além do dinheiro.

Na verdade, ela nunca foi minha amiga.

Mas, isso, eu descobriria anos depois.




Ter um ser demoníaco em sua vida nada tem de glamouroso. É incômodo. Estar sendo sempre vigiada, usada, violada. Ainda me pergunto como eu fui tão burra a ponto de ir àquela lareira na maldita noite em que o encontrei pela primeira vez.

Tenho pensado em me livrar dele. Como? Não faço ideia. Ele está sempre próximo a mim. Eu o sinto em todos os lugares, prestes a me atacar. Ou, pior, atacar pessoas que conheço e que ousam me tocar.
Daria tudo para voltar no Tempo.
Minto. Já sofri muito a fim de guardar minha grana mais do que suada. Ainda preciso de mais.
Mais. Sempre mais.
É assim que ele pensa. Ga'al. Verme. Por que ainda não me livrei dele?

Isso, um dia, vai acabar ou eu 'acabo' antes.



Ergo-me do sofá e entro no clima. Caminho nua pelo set de gravação onde sou apalpada pelos homens que me veem passar. Não estava no script, mas o diretor me incentiva a continuar. Trata-se de uma cena onde sou atacada por homens num bar. Uma cena clichê. Adoraria criar cenas onde danço e sou aplaudida por algum homem solitário que queira conversar comigo antes de transar.

ACORDA!

Sou empurrada para longe da mesa de sinuca onde jogava sozinha e tenho meu vestido rasgado por dois deles. Peço que parem. Peço por socorro, mas sou levada até um sofá em couro onde me jogam, seminua. Sou puxada pelas pernas até o espaldar do sofá onde somente meu tronco fica nele. Tento escapar, xingando-os, movendo meu tronco de um lado para o outro. Um deles crava sua mão em meu pescoço e mostra seu pênis ereto, então, tudo se repete. Dois ou mais homens se revezam dentro de mim e eu finjo gostar e 'blá blá blá'.

Tudo por dinheiro e nenhuma emoção.

Passara de 'Garota de Programa' à 'Rainha de Filmes Pornôs' do dia para a noite.

Ou seria o contrário?



Ga'al, com sua fome por sexo, despertara meu pior lado e me fizera adoecer.

"Ninfomania", explica a ginecologista em quem eu confio. Estou chocada com seu diagnóstico sobre meu gosto exagerado em ser sodomizada.

- Transtorno do Desejo Sexual Hiperativo.

- E como posso me curar...digo...se um dia eu quiser parar com tudo?

- Internando-se em uma boa clínica, com acompanhamento de psiquiatras e psicólogos. Quando quiser parar com tudo, Adessa, me avise. Eu estarei aqui pra te ajudar.

De volta ao meu apartamento luxuoso, tão vazio quanto meu coração que estranhamente passara a sentir falta de algo que não conheço, penso no diagnóstico da ginecologista e me nego a acreditar que esteja doente.

Que tipo de viciado assume seu vício? A menos, que esteja à beira da morte. Ainda assim, o cérebro pede por mais. Mais bebida, mais cigarro, mais cocaína. Mais pornografia. Mais celular. Mais adrenalina.

Estudos da Neurociência afirmam que se o viciado conseguir se privar de seu vício pelo período de trinta dias, o cérebro deixa de pedir por mais dopamina e, talvez, ele consiga se curar. Talvez, se eu conseguisse ficar longe de sexo por esse tempo, eu poderia ser alguém normal.

Diante do espelho, já não enxergo a garota que se formou em Educação Física e sonhou em lidar com crianças.

- Me deixa dormir. - Imploro a Ga'al que volta a me acender com sua língua, mãos, dedos e seu pau enorme e quente dentro de mim. Noites se repetem sem que ele desista de mim. - De onde eu te conheço?

- Não importa. Tu és minha e eu sou teu. É tudo do que precisas saber.

Falto às aulas na faculdade de Psicologia por não ter forças para me levantar da cama onde ele me mantem presa. Penso em uma maneira de me livrar dessa maldição. Como tudo começou? De onde ele me conhece?

Ao final, eu entenderia tudo.



Francamente decidida a limitar o acesso de Ga'al em minha vida, leio livros sobre Magia, Bruxarias e Feitiços.

Encontro algo em um site sobre o assunto. Bruxas reverenciam sua deusa, duas vezes ao ano e, uma dessas vezes será daqui a alguns dias.

Sem que Ga'al consiga ler meus pensamentos, envio mensagens ao grupo que me acolhe de braços abertos.

"Nós te libertaremos dele!", promete-me a administradora do grupo e sacerdotisa que, em breve, conhecerei, pessoalmente.

Parecendo pressentir minhas intenções, Ga'al me machuca mais do que das outras vezes. Há raiva em seu olhar enquanto me faz sacodir com suas estocadas intermináveis. Ardendo por dentro, peço que pare. Imploro. Suplico. Gargalhando, ele continua a me invadir e, com os punhos cerrados, soca meu rosto, surpreendendo-me, o que aumenta...triplica a minha intenção em me livrar dele.

Para sempre!


Por vezes, penso que ele quer se vingar de algo ou alguém.

Por vezes, pressinto algo de humano nele.



Cá estou em mais uma clareira onde uma grande fogueira acesa parece querer me dizer algo. Se ouvisse, uma segunda vez, minha intuição, correria daquele lugar.

Esquece. Ainda tenho muito a aprender.

Encontro-me com as bruxas que, supostamente, me libertarão de Ga'al. Estou doente. Já não consigo estudar ou me alimentar graças a ele que não me deixa em paz.

E, quando estou sozinha, a compulsão por sexo me toma por inteiro. Ainda que me odeie por isso, gravo a mim mesma enquanto me toco diante da tela do meu celular onde quer que eu esteja. Vídeo pronto e postado. Dinheiro depositado e meu coração dilacerado pela culpa.

O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO???

Eu costumava gostar de ser puta!

- Seja bem-vinda, Adessa. Vc está bem?

- Perdão. Eu não te ouvi. - Cumprimento a mulher com os olhos penetrantes e escuros como a noite. - Eu...eu não sei o que fazer. - Confesso, insegura.

- Não faça nada até que eu a mande fazer. Confia em mim? - E eu tenho escolha??? - Confia?

- Sim. - Minto. - Claro que sim.

- Venha! - Puxa-me a mais nova das mulheres ao redor da fogueira. - Se solta! Beba e dance conosco! - Claro. É tudo o que não devo fazer. Ficar bêbada em frente ao fogo tendo um bando de mulheres malucas e nuas se atracando como gatas no cio. - Venha, 'sua linda'! - Convida-me uma delas. Contrariando minha intuição, num instante, estou entre elas.



"Há Magia nele", avisa-me a mais fogosa. Entre as três, deixo-me tocar e sinto um prazer diferente de tudo que sentira antes. Após me deitar ao lado da fogueira, tonta, pergunto o que devo fazer para matar Ga'al de uma vez por todas.



A mais velha observa-me enquanto me perco na orgia onde estou mergulhada. Ansiosa, ela espera que eu atinja o orgasmo uma vez mais e, com seus dedos longos, colha o líquido e o guarde em um cálice em ouro com minuciosos detalhes de caveiras entalhadas em seu bojo. Há Magia em tudo e em todas. Um tipo de Magia suja. Não a Magia com que sempre sonhei. A Magia onde vejo uma linda garotinha com asas de borboletas. Asas púrpuras. Faz tempo que não sonho com ela. O que estou fazendo aqui? Não é o meu lugar. Tenho nojo.

De volta ao inferno, ouço os uivos e gemidos das mulheres ao meu redor. De repente, a sacerdotisa pede por silêncio. Saio do transe e, cambaleando, vou até o lago onde desejo me limpar. A mulher velha e irritante me impede, puxando-me pela mão. - É preciso ter cheiro de sexo para atraí-lo. Venha. Chegou a hora. - O que devo fazer? - Receosa, pergunto. - Que palavras devo usar? - Eu te direi assim que ele gozar em você. Adessa, vc realmente deseja se libertar desse demônio? - Com todas as forças da minha alma. - Assevero, deitando-me sobre a pedra de sacrifícios. Além de nojo, tenho medo. Todas me cercam. Outro orgasmo e, mais uma vez, a mais velha colhe meu líquido. Isso é repugnante. Prefiro os filmes que gravo. São mais higiênicos. Mais uma vez, pergunto-me o que estou fazendo aqui. Meio que dopada, questiono. - Pra que serve isso? - Vc vai ver...- Seu sorriso é macabro, mas preciso confiar nela porque já não suporto a presença daquele verme em minha vida. - Ele está chegando. - O que eu faço!? - Entregue-se a ele.

Eu a obedeço deixando que Ga'al me penetre pela última vez.

Ao menos, era essa a intenção.




Ouço o som do trovão ao longe. Os pingos da chuva molham meu corpo e caem em minha boca aberta. Sobre mim, Ga'al repete seu ritual de brutalidade. Seu aspecto é terrível. Sobre a pedra, ele despeja seu líquido quente dentro de mim. Confusa e dolorida, ainda consigo ver a bruxa mais velha colher seu gozo e juntá-lo ao meu, no cálice de ouro. Enojada, vomito sobre a pedra. Ao nosso redor, as mulheres dançam e giram enlouquecidas. Cantam em um dialeto que desconheço a canção "Dessumiis Luge". Eu a conheço por conter maldições em sua letra, tornando tudo ainda mais bizarro.




A histeria toma conta de todas quando a mais velha alerta num grito.
- Está acabando!
Invocando Hécate, a deusa que vagueia despenteada e selvagem entre as tumbas e crematórios, eu a ouço enquanto encaro os olhos flamejantes de Ga'al que não se cansa...jamais. Estou prestes a desmaiar de dor quando a ouço clamar. - Que Ga'al seja amarrado com esse talismã! Que Ga'al seja amarrado e amordaçado com esse talismã e banido da face da Terra! Que seja banido desse mundo e da vida de Adessa, tua filha, com esse talismã que consagro a ti!





Tudo acontece ao mesmo tempo, em uma perfeita sincronia. Uma das mulheres solta um grito de horror ao final da canção enquanto Ga'al vai perdendo a forma até se esvair por completo, sugado por um espaço aberto acima de nossas cabeças. Uma espécie de buraco negro o engole e se fecha antes que ele possa me amaldiçoar. - Acabou? - Sussurro totalmente devastada. - Sim. - Garante-me a bruxa mais velha cujos olhos brilham tanto quanto os de Ga'al. - Descanse. Vc está livre dele...até que o outro tome seu lugar. Outro??? Que outro??? Quero gritar, mas, sem forças, desmaio.

Ga'al desaparecera de minha vida desde aquela noite sinistra. Pensei estar curada do meu vício longe dele, mas...eu me enganei.

Continuo a dançar e tirar a roupa no 'California', a boate mais famosa da cidade por suas strippers fogosas, e a sair com meus antigos clientes. Meu apetite por sexo não fora amenizado na ausência de Ga'al, o que me faz pensar que o mal não estava nele e sim, em mim.

Eu sou o meu mal. Sou a minha doença. Sou a compulsão por transar com qualquer um aqui, nessa festinha onde estou nesse exato momento.

Danço sozinha na pista enquanto o garçom não para de me oferecer garrafas e garrafas de 'Ice' já abertas sem retirar um sorriso esquisito de seu rosto. Ainda não compreendo o porquê de ter aceitado o convite de Sweet.

Queria estar dormindo em minha cama.

Arfando, descanso minhas mãos nos joelhos estranhando meu súbito cansaço. Cerro os olhos e, ao abri-los novamente, estou deitada em um colchão imundo, em algum lugar claustrofóbico. Corpos, rostos embaçados. Risos, urros de vitória e meu corpo é empurrado contra a parede. Leva um tempo até que eu consiga entender onde estou e o que estão fazendo comigo. - NÃO! - Grito cheia de ódio. - EU DISSE NÃO! Gargalhadas e um coro de "mais um!" me fazem pensar que nós, mulheres, não temos direito ao nosso corpo. Em teoria, eles deveriam parar de me violar, no entanto, eles continuam com mais força, um após o outro enquanto grito por socorro. Um deles tapa minha boca com sua mão imunda. Um outro, estapeia minha face, meus seios, rindo de si mesmo. Enjoada e com dor, vomito em um deles assim que liberam minha boca. Um soco me faz cuspir sangue. Estou prestes a desistir quando eu o ouço pela primeira vez...nessa vida. - BANDO DE COVARDES! - Grita ele, colérico enquanto tento abrir meus olhos inchados, doloridos. - Me ajuda...- Suplico, estendendo o braço em sua direção. Sua sombra é cheia de luz. Luz que cega meus olhos semiabertos. - Eu não quis... - Eu sei, meu anjo. Vc foi dopada. Vem... Levando-me em seu colo, ele beija o topo de minha cabeça e me faz acreditar que tudo vai mudar quando promete. - Eu nunca mais vou deixar que te machuquem. E eu acreditei.



Eu o procuro por toda parte, ainda que não o tenha visto. Lembro-me de seu perfume cítrico e da voz grave e cheia de ternura. Por que não abri meus olhos e fixei sua imagem em minha mente quando ele me socorreu?

Porque eu estava bêbada, drogada e havia acabado de ser violentada por tantos homens que, sequer, tenho ideia da quantidade? Por que meus olhos não se abriam, por mais que eu tentasse?

Após semanas à sua procura, volto ao local da festa e tudo o que consigo é um convite para outra festinha animada como aquela onde fui salva pelo homem que procuro, ansiosamente. "Pagam quanto?"


Sem o menor escrúpulo, aceito o convite para uma outra festa onde me comprometo a transar com, pelo menos, quatro homens. O valor é mega alto e ainda resta a esperança de reencontrar o 'carinha' que está me tirando o sono. Dessa vez, eles não me drogam enquanto me prendem à cordas. Tenho medo de perder o controle e, principalmente, de não ter ele aqui para me salvar e me levar a casa.

Tenho medo de reconhecer que eu não valho nada.

Mais uma vez, eu me deixo usar e me perco entre bocas, mãos e línguas que saciam sua fome lasciva em mim. Enquanto vou tirando a roupa, tendo ao meu redor homens tão doentes quanto eu, penso no meu salvador que, talvez, esteja entre eles.

Outro erro. Outro grande erro em minha lista imensa de erros cometidos.

Talvez seja um erro procurar por ele. Talvez eu deva me perder em outras mãos porque as dele são santas e jamais tornariam a me tocar.

Talvez, eu deva morrer porque, somente então, eu estarei livre da ninfomania que me mata, aos poucos.



Olho para a cartela de ansiolíticos ao lado da garrafa de vinho. Descarto seis comprimidos e os jogo em minha boca. Desesperançada, sozinha, culpada, tomo o primeiro gole do vinho quando o ouço em minha mente.

"Não faça isso! Por favor! Cuspa agora!"

Mais pelo susto do que pela razão, enfio dois dedos em minha garganta e vomito o que não chegara a ser engolido.

- Quem tá aí, porra!?

Pergunto enquanto olho ao redor. Não há nada. Ninguém em meu quarto além de mim e de minha tristeza e ansiedade crescentes ao ouvir sua voz repetir.

"Eu nunca mais vou deixar que te machuquem".

Durmo, repleta de alegria, com um sorriso patético em meu rosto.


Ao acordar, tento me lembrar de quando eu me comprometi com Ga'al e não me recordo.
Não me lembro de pacto algum. Nada. Ele invadiu minha vida. Ele ainda não partiu.
Eu sei. Eu sinto.
Algo me diz que ainda vou sofrer muito. Com ou sem ele.

Algo me faz acreditar que posso ser feliz se reencontrar o meu salvador.
Algo me diz que sou estúpida e que devo me matar.

VOLTE A DORMIR, IDIOTA!

Obedeço.


Continua...





quarta-feira, 6 de abril de 2022

CAPÍTULO 1 - O INÍCIO






Se agora, ao final, eu soubesse o quanto iria sofrer por vc, eu teria feito tudo de novo.

Te amar me fez sair do fundo do poço, meu 'Heathcliff'.




Meus pais costumavam dizer que eu lhes custava caro, quando, na verdade, eu estudava em escolas públicas desde pequena e, agora, cursando uma faculdade federal em outro estado, quase não os via. Sempre tentei ser uma boa filha, mas, boas filhas raramente são vistas. As más é que ocupam o tempo dos pais que, consequentemente, lhes dão maior atenção.

Cansada de não ter amigos ou namorados que me dessem valor, voltava-me aos estudos que tomavam grande parte do meu tempo. Dividindo um quarto com uma colega que cursava 'Letras' enquanto eu cursava 'Educação Física', sempre a via sair à noite com uma galera animada sem que ela me convidasse. Creio que, mesmo que me convidasse, eu não iria a lugar algum. Sentia-me feia, desajeitada, embora recebesse olhares lascivos dos meninos do campus. "Gostosa!", costumavam dizer quando esbarravam, propositadamente, em mim nos corredores da faculdade. O que eles viam em mim que eu não conseguia compreender?

Talvez, minha alma degenerada. Talvez, eles a vissem antes de mim.


"Meninas boas não colocam a mão naquele lugar. É feio e Deus não gosta", dizia minha mãe. Aceitei isso como verdade e nunca havia me masturbado até me transformar, anos mais tarde, em um objeto caro de prazer alheio.


Aceito o convite da colega de minha colega de quarto que insistira para que eu a acompanhasse a uma festa estranha, com gente esquisita.
A garota, de fato, era bem diferente. Usava roupas pretas, piercings no nariz, na língua e um bem acima da sobrancelha. Achava fofo o piercing da língua conquanto me perguntasse se não a incomodaria na hora de escovar os dentes.

Eu e meus questionamentos idiotas.
É. Pode parecer estranho, mas, eu já fui inocente. Aos dezoito, eu ainda me mantinha inocente e pura.

- Sou lésbica. Algum problema?
- Nenhum. Por quê? - Respondo meio que sem jeito, imaginando o efeito do 'piercing' durante um beijo. 
Nunca havia transado com meninos, tampouco com meninas. Era inexperiente e, se ouvisse minha intuição, continuaria a ser.
No centro da clareira ardia uma imensa fogueira. Ao redor dela, mulheres nuas e totalmente bêbadas, dançavam e uivavam para a lua cheia. Meu  primeiro pensamento foi: 
"Putz! Vão cair e se queimar feio!" 
O segundo foi:
"Que merda eu estou fazendo aqui!?"
Tonta, a qualquer momento, poderia ser queimada viva caso tomasse outro gole do vinho compartilhado na garrafa que passava de boca em boca. Em sã consciência, eu jamais encostaria meus lábios ali, mas...como dizem: 
"Cu de bêbado não tem dono".

Em pouco tempo, já estava diante de Beverly - nome da colega da minha colega de quarto - trajando calcinha preta de algodão e um sutiã quadriculado. Sem noção? Pode ser. Diabos! Eu jamais imaginei que me veriam de lingerie bem no meio de uma floresta.

- Tá 'gata'! Não se liga nisso não...- Sussurra Bev ao meu ouvido enquanto briga com o fecho do meu sutiã. Que diabos ela está fazendo? Ficamos tão próximas que sentira seu hálito de menta. Apesar de nunca ter pensado em meninas, curto o modo como ela me puxa para longe da fogueira e me faz deitar sobre uma toalha jogada na grama. Estou super bêbada. Não faço ideia de onde estou ou quais são as constelações que vejo no céu. Bev se deita ao meu lado e sua boca procura pela minha. Sigo meus impulsos e me deixo beijar por ela. Finalmente, soube o efeito de seu piercing em minha língua. 
Parei por aí.
Percebi que garotas não eram a 'minha praia'. Talvez, por timidez. Talvez, por preconceito. O fato é que não permiti que ela continuasse a me beijar e a me tocar.
Beverly some tão subitamente quanto o vento forte e morno surge, apagando a fogueira por completo. Vestindo-me às pressas, eu me aproximo das brasas entre as achas de madeira. Incrédula, pergunto.
- O que foi isso!?
- Ele chegou! - Grita uma das mulheres. Em êxtase, a mais velha me puxa para si enquanto tento não tropeçar. - Deixe que ele te toque. Deixe que ele te possua. - Incentiva-me ela absolutamente fora de si.
- Me solta, sua louca! - Recuo. O forte odor de enxofre se espalha pela clareira quando tento fugir. 

- Fica! - Ordena a mulher. - Não vai se arrepender.

É sério???

Se eu soubesse o quanto aquele momento me custaria, jamais teria saído do meu quarto.





- Não quero ficar. - Rosno. - Me solta, porra.

Ela se ajoelha diante da densa fumaça que, aos poucos, se transforma em algo palpável. Algo que tem mãos imensas e fortes que me seguram pelo braço. Luto contra o corpo que se materializa diante de mim, mas é inútil. Sua força é descomunal. Seus braços me sustentam. Seu rosto não me é visível, mas suas intenções são claras. Agarro-me ao crucifixo de ouro que minha mãe me dera antes de morrer e repito por três vezes a frase de São Bento. A única oração que guardei de minha bizarra infância.
'A Cruz Sagrada seja a minha Luz. Não seja o Dragão o meu guia'.
Subitamente, ele me joga contra a relva úmida enquanto engatinho até conseguir me reerguer e correr de volta ao Campus.
Com o coração batendo na garganta ainda consigo ouvir sua voz gutural em meus ouvidos:

'Vou te tocar, Adessa. Vc é minha'.

Como ele sabe meu nome??? De onde essa coisa me conhece???
Como ele sabe meu nome???

Abstraio a experiência macabra e sigo adiante sem ter planos algum para me sustentar. Adoraria exercer a minha profissão após a minha formatura. Adoraria mostrar aos meus pais que eu não seria a puta que eles acreditavam que eu seria, mas...não rolou. Minha mãe partiu dessa vida sem que eu pudesse lhe mostrar que eu havia vencido.
Em quê? 
Um canudo em minha mão e um capelo em minha cabeça é tudo o que possuo, além da imensa vontade em ingressar em alguma Escola de Dança e, talvez, como muita sorte, ser reconhecida como uma das melhores bailarinas do mundo.
A bailarina que meus pais não me deixaram ser quando criança.

Não é engraçado? A vida prega peças na gente. Estudei tanto e acabei por me sustentar financeiramente após conhecer um 'personal trainer', em uma academia em que eu treinava. Meu corpo havia mudado bastante. Começara a gostar dele quando me via no espelho, após um banho rápido. Meus seios haviam crescido. Meu bumbum, empinado. Meus cabelos longos e negros me emprestavam um ar de mistério. Meus lábios carnudos eram cobiçados por muitos. Beijados por poucos. Um deles era o tal 'personal' que me apresentara a um amigo, dono de uma boate na área nobre da cidade onde os homens com grana frequentavam.

Eu aceitei o convite por curiosidade. Nunca imaginei em me tornar uma das dançarinas exóticas, belíssimas que arrasavam no palco...absolutamente nuas.

Eu já mencionei que amo dançar?

Encontraria amigos em uma casa noturna chamada "Hotel California" dali a alguns anos. Encontraria amigos e sofrimento nos braços de um homem mais do que especial. Por que ele demorou tanto para me encontrar? Por que demorou mais ainda em se mostrar, de verdade, para mim?
- Aonde vai?
- Ao banheiro. 
- E me deixar sozinha com esse homem bêbado!? 
- Calma, Adessa. Ele é meu amigo.
- E daí! Não é o meu! - Um beijo em minha boca e meu namorado rosna, apertando meu pulso. 
- Seja boazinha. Ok?
- Não entendi! - Grito enquanto o vejo sumir entre a multidão que preenche todos os espaços da boate. - Volta! - Contrariada, sento-me ao lado do estranho que me observa com as pupilas dilatadas. Cocaína? LSD? Saco! O sofá em semicírculo me coloca à sua frente. Com meus cabelos suados, tento cobrir os seios sob o tecido fino de meu vestido curto. Não gosto do jeito como ele me olha. Detesto. - Não seja ridículo! - Protesto após estapear sua mão. Ela acaba de tentar tocar em minha coxa. - Eu tenho namorado! Não percebeu!?
- Foi ele quem me disse que eu poderia ficar à vontade. - Diz ele, escorregando sob o assento em minha direção. - Não posso?
- Oiii??? À vontade onde, palerma??? 
- Vc não é profissional?
- Não. Ainda não trabalho. Tá difícil.
- Difícil? Por quê? Vc é tão gostosa.
- Idiota! Eu sou formada em Educação Física! Quero lecionar ou frequentar alguma Escola de Dança! Não sou o que pensa que sou!
- Não foi o que ele me disse...
- Não me toque outra vez. - Aviso. Uma gargalhada e ele engole o resto do uísque em seu copo. Sua voz entaramelada pergunta.
- Quanto!?
- Não entendi. - Luto contra sua mão que segura meu punho, impedindo-me de voltar à pista de dança. - Me solta! Eu quero dançar!
- Quanto vc quer, querida?
- Pra quê!? - Finjo não conhecer suas intenções. Finjo não compreender o papel sujo que meu suposto namorado acaba de interpretar: O de cafetão. Penso no aluguel do meu 'apê', atrasado, e no sonho em comprar aquela TV de cinquenta polegadas que vira na loja em frente ao prédio onde moro, bem longe da praia. - Repete! - Grito mais alto do que a música rolando. - Quanto pra quê!?
- Pra te foder, garota!
- Estúpido...- Rosno, de volta à poltrona. Encarando-o, esclareço. - Eu não sou prostituta. Só estava me divertindo. Se aquele filho da puta disse algo diferente disso, ele está mentindo.
- Não me importo. - Sussurra ele em meu ouvido. Argh! Que nojo! Ele acaba de cuspir gotículas de sua saliva imunda em meu rosto! - Gostei de vc e eu sempre conquisto o que quero.
- Não me diga...- Zombo, afastando-me dele. Seu aspecto, em geral, não é tão asqueroso assim. Um bom shampoo em seu cabelo oleoso e, talvez, ele me pareça agradável. - FALA!
- NÃO GRITA! EU NÃO SOU SURDA!
- PARECE! QUANTO QUER POR DUAS NOITES COMIGO!?
- Não faço programas! Quer que eu desenhe!?
- Três mil por duas noites! É a minha oferta final! 
- Oii??? Três mil por duas noites??? - Pensando nos números que sobrevoam minha cabeça, eu o irrito ao perguntar novamente. - Noites de quê???
- Sexo, querida. Sexo. - Responde-me ele, com bafo de uísque e os olhos impregnados de luxúria. - O que houve?
- Nada. - Minto. Acabo de ver o meu namorado beijando outra garota na pista de dança. Jamais senti algo forte por ele. Nada. Mas, não imaginava que ele seria um aliciador de mulheres. A idiota que o beijou acaba de sorrir para ele. Certamente, outra a quem ele vai empurrar nos braços de algum velho babão e rico. Por que esse babaca não para de me olhar? - Eu tô pensando! Espera! - Hesitando entre o nojo, a necessidade e raiva, comento. - Não pensei que valesse tanto. Me dá um tempinho pra pensar na proposta?
- Claro. - Seus dentes amarelados me dão ânsia de vômito. - Tem quinze minutos.
- Ah...tá. - Gargalho, nervosa. - Isso é tempo pra cacete. -  Tempo suficiente para recuar  e não me entregar a um homem que não conheço e que me parece grosseiro, sujo e que, talvez, não me pague!? Recua! - Ordeno. - Como vou saber que vai me pagar?
- Já ouviu falar em 'pix'
- Vá pro inferno. - Rosno novamente. - É óbvio que sim. - Só ouço falar. Receber que é bom, nunca. - Pagamento adiantado. - Negocio, insegura.
- Feito.
Porra. Acabo de me vender a um estranho. Foi tão fácil. O que faço agora? Mostrando-me a tela de seu celular, ele celebra.
- Pix realizado com sucesso!
- Aonde vai!?
- Vamos! - Responde-me ele, puxando-me pela mão. Aflita, ainda tento pedir socorro ao 'personal' de merda com quem transei uma ou duas vezes. Se arrependimento tivesse um rosto, seria o dele. Sorrindo, ele me acena de longe. Erguendo meu dedo médio, eu o ameaço num grito.
- VAI TER VOLTA!




Dentro de seu carro maior do que o meu quarto, ele se anima. 
Minha mãe costumava dizer: 'Quem está na chuva é pra se molhar'. Estranho me lembrar dela justo agora. Finjo brincar, mas estou lutando contra ele. Contra seu toque. O maldito é forte. Muito mais forte do que eu.

Enlouquecido, ele me puxa para si e me faz sentar em seu colo, no banco do motorista. Sinto seu pau duro por baixo da calça social. Não quero beijá-lo. Não mesmo. Quero a grana. Preciso dela, então, rebolo em seu colo.

- Não não não! - Protesto diante de seu pau exposto para fora da calça. O que eu estou fazendo aqui!? Deveríamos estar comemorando dois meses de namoro! Por que aquele verme fez isso comigo!? Por que eu aceitei a proposta!? Eu não quero fazer isso! Eu não saí de casa pra isso! Eu não tenho casa! Vão me expulsar do meu 'apê' se não pagar o aluguel! Como continuar a pagar pelo meu 'CREF' atrasado!? - NÃO! EU NÃO QUERO TE BEIJAR! - Rindo, ele estapeia meu rosto. Um soco em seu olho e recebo outro, em meu queixo. 
Aprenderia a lutar anos mais tarde. No momento, eu sucumbo à dor e à humilhação.

Bem-vinda à sua futura vida, Adessa.
Por dois dias e duas noites, eu fui sua escrava sexual e, ao final, enojada, machucada por dentro e por fora, confiro a grana em minha conta bancária.
"Valeu a pena", tento me convencer, diante de minha enorme TV, deitada em minha nova cama box, vestindo meu pijama novo de flanela quadriculada.
Eu sempre quis ter um desses. Eu nunca pensei que teria nojo de mim mesma.
"Valeu a pena", penso diante de minha TV, vestindo meu pijama novo de flanela


Após aquela noite, não parei mais. 
Não vou romantizar a prostituição. Não. Nada tem de agradável. Mas, vicia.
Em uma noite de trabalho, ganho o que levaria meses como professora ou 'personal'.
É o tipo de vida com a qual sonhei? Não. Agora é tarde. Estou ganhando fama. Meu nome começa a circular entre os homens casados, insatisfeitos e ricos da cidade.

Sou convidada para festas particulares, orgias e casas de Swingers. Topo tudo porque estou viciada no dinheiro que cai em minha conta de uma forma rápida. Nunca fácil.
Há coisas que fiz e que não pretendo repetir. No entanto, as coisas mais estranhas são as mais bem pagas. Falando em fetiches, em uma das muitas festas que frequentei durante a semana, fui amarrada por um grupo de quatro homens que me dominaram por umas quatro horas. Nunca fora tão usada como naquela noite. Devo confessar que gostei de ser penetrada com violência.
Sempre que me lembro, tenho vontade de me masturbar


A doença que me acompanharia por um tempo já mostrava sua face sem que eu a percebesse.
Voltara a casa e, após um longo banho, notara, em meu corpo, hematomas dos maus tratos que havia sofrido. Ainda tonta de tanta tequila, deitei em minha cama. Quase adormecendo, sentira sua língua quente lambendo-me, profundamente.

Assustada, arremesso o lençol à distância e nada vejo além do meu colchão. Nada ao redor além da língua que me faz gemer de tesão. Deito-me e permito que aquilo continue a me fazer gozar.
Deito-me e permito que aquilo continue a me fazer gozar



Repentinamente, seu corpo pesa sobre o meu. Reconheço o odor de enxofre misturado a sândalo enquanto ele mordisca meus mamilos.
 
- Quem é vc? Quero te ver.
- Sou quem vc quiser que eu seja. Basta me pedir e eu serei seu.

Gemendo de prazer, contorcendo-me na cama, eu insisto.

- Quem é vc??? - Perco-me em meus pensamentos enquanto ele me penetra com força por um longo tempo. - Vá...embora. - Peço num gemido. - Não farei pactos com ninguém.
- Eu sou seu. Posso te dar o mundo. Basta pedir. -  Tento tocar em seu rosto. Ele recua até o batente da porta. Seu corpo esfumaçado vai se esvaindo até sumir. 
- Basta pedir e eu te darei tudo.
- Seu nome.
- Ga'al 
- Eu te conheço?
- Sim. Mas não se lembra.
 Ainda excitada, eu ligo meu celular e me inscrevo em um site de pornografia. Gravo meus seios enquanto me masturbo pensando no ser demoníaco e no quanto eu posso ganhar se me entregar a ele.
Leio os comentários dos internautas e me excito ainda mais.
 
Creio que nasci para ser puta.

Dos vídeos à pornografia fora um pulo.

Exausta, durmo. Do 'Outro Lado', eu o encontro, faminto.
Do Outro Lado, eu o encontro, faminto

- Onde estou?
- Não importa. Venha até mim.
- Não. Eu não te conheço. Tenho medo.
- Não vou te machucar. Prometo.
- Vc mente. Eu sei. Eu sinto.
- Vc continua a mesma. 'Eu sei. Eu sinto'. Sempre dizendo isso.
- De onde me conhece, maldito.
- Não é o momento. Chupa meu pau, vadia.
- Que nojo. Nem meus clientes falam assim comigo.
- Não sou seu cliente, Adessa. Sou aquele que vai te dar o mundo se te ajoelhares diante de mim.
- Sério? Estou diante de Lúcifer? - Zombo cercada por seres medonhos. - Aquele que tentou Jesus no deserto?
- Não brinque comigo. Não te lembras de mim.
- Não. E nem desejo me lembrar. Quero voltar. Preciso dormir. Amanhã, eu trabalho.
- Amanhã vc volta a ser a puta vadia que se acostumou a ter o que o dinheiro pode te dar de melhor.
- Qual o problema?
- Eu te dei tudo! - Urra ele fazendo-me tremer de medo. - Eu posso tirar tudo de vc a qualquer momento!
- Não acredito nisso, verme! - Sua imensa mão em meu pescoço me eleva do chão de terra pisada. Sem ar, eu o observo, com os olhos estatelados, seu rosto. Há algo de humano em seus olhos cheios de fúria. - Me solta...- Imploro, quase sem voz. - Por...favor.
- Satisfaça meus desejos e eu te deixo partir, vagabunda.
Arremessada contra uma das paredes do que me parece ser uma caverna, apoio minhas mãos no chão arenoso antes de ser arrastada por seres com troncos curtos e braços alongados, até Ga'al, sentado em seu trono de pedra. Jogada aos seus pés, julgando-me impotente, cedo aos seus caprichos e me deixo possuir ali, diante de todos. 
Meus dias e noites de uma longa tortura tiveram início naquele momento. 
Apesar de ter tido uma severa educação religiosa por parte de minha mãe, não me lembrava de pedir ajuda ao 'Crucificado'. Apesar disso, eu seria abençoada ao encontrar a Luz em minha vida nos braços de uma garotinha. 
Até lá, eu viveria nas Sombras, sob o domínio do Mal.




Continua...



EPÍLOGO

  Abro os olhos. Encaro o teto do quarto, tentando não me recordar do sonho. Um sonho ruim. Chove lá fora. Dentro do quarto, faz frio. Meu c...