Não houve sepultamentos.
Não sem corpos. O corpo de Celeste virou fuligem. O de Enrico, sumiu, como que por encanto. Ainda sinto o cheiro de rosas em seu lençol. Eu mesma faço questão de lavar sua roupa de cama, seu pijama, lembrando-me de suas últimas palavras enquanto eu me angustiava entre o sono e a vigília.
"Ainda não terminei minha missão".
Ele deveria estar de volta. Ou não. Talvez, eu tenha ouvido o eco de suas palavras durante a festa que Antoine organizou em celebração ao meu retorno. O retorno para o inferno de onde eu não posso sair. Não sem meus filhos.
Antoine dorme há dois dias. Sua temperatura corporal oscila entre trinta e sete e quarenta graus. Leo a protege como um fiel escudeiro. Ele não a deixa sozinha, a menos que eu insista. Revezamos a vigilância enquanto Vincenzo nos observa, à distância. Leo toma banho, come algo e retorna ao seu posto.
"Daqui eu não saio até ela acordar, tia".
Vincenzo lhe dera licença do trabalho por entender sua aflição. Ainda não consigo olhar em seu rosto, tampouco lhe dirigir a palavra. Há muito a ser dito, perguntado, respondido. Há um abismo entre mim e Vincenzo. Abismo que ele não faz a menor questão de cruzar. Sempre calado, ele sai cedo para a academia e me evita durante as refeições. Assim que retorna, ele cuida de Matteo enquanto assumo o lugar de Leo. Exausto, Leo cochila e, quando acorda, acorda aos gritos. Ainda não sei se ele se recorda do que fez ou o fez tomado por alguma força sobrenatural.
- Tia. Vai descansar. Eu tomo conta dela.
- Depois de vc comer, eu vou. Tem sanduíches na geladeira. Esquente no micro-ondas, depois, vc volta. - Um sorriso triste e aviso. - 'Saco vazio não para em pé'. Já dizia minha mãe.
- A minha também...- Lamenta ele. - Quando Antoine acordar, vou contar a ela essa coisa de 'saco vazio'. Ela vai rir muito.
- Tenho certeza. - Engulo em seco enquanto o vejo sair pela porta do quarto. Ele não perde a esperança de que ela vai retornar como sempre foi. Eu tenho minhas dúvidas. Nada será como antes. Por que eu não consigo ser otimista? O médico que a examinou nada encontrou de preocupante. Ele a chamou de 'A Bela Adormecida' e me pediu que a observasse. Caso houvesse um aumento significativo de temperatura ou algum outro sintoma, eu deveria levá-la à emergência. Caminhando até a cozinha, penso em como nossa vida mudou da noite para o dia. Mudou drasticamente. Abro a geladeira e deixo duas lágrimas escorrerem em meu rosto ao notar meu bolo de 'desaniversário', pela metade.
- Quem teria comido meu bolo? Não há clima pra isso?
- Desde quando é preciso clima pra se comer um pedaço de bolo? - Enrijeço-me diante da geladeira, a porta aberta, o ar frio tocando em meu rosto. Meus pensamentos se embaralham. Minha voz some. Minha garganta seca. De olhos fechados, volto a ouvir sua voz revelar. - Eu comi. Tem problema?
- Nenhum. - Bato a porta da geladeira, com força e resmungo. - Está ali pra ser comido. - Dando a volta na ilha em mármore, alcanço a pia. Abro a ducha de água fria sem me recordar do que vim fazer aqui.
- Comer?
- Não fala comigo.
- Já não estamos calados há muito tempo, Dess? Há mais de dois dias, vc não fala comigo. - De costas para ele, refuto.
- Digo o mesmo. Vc não fala comigo há mais de dois dias.
- Então, não nos falamos há mais de dois dias.
- Foi isso o que eu disse, idiota.
- Não. Fui eu quem disse primeiro.
- Não banque o engraçadinho agora, Vincenzo. Hora errada pra tentar alegrar o ambiente.
- Não sinto graça em mais nada, Dess. Meu pai morreu. Minha filha está em um lugar distante. Meu filho sente a falta do avô e minha esposa me odeia.
- Eu não te odeio e, vc se esqueceu de mencionar que sua amante morreu queimada por uma espada em chamas.
- Eu quero...preciso te contar, Dess. Ela não foi minha amante. Isso é tão falso quanto nojento.
- NÃO! - Jogando o pano de prato em seu rosto, aviso, aos gritos. - NÃO QUERO OUVIR AGORA! POR FAVOR! DEIXA MINHA FILHA VOLTAR SEI LÁ DE ONDE! - Tocando minha mão assim que passo por ele, eu suspiro. Seu toque ainda me faz sentir algo. Ódio? Ranço? Pavor? Amor? Não sei. - Outra hora, Vincenzo.
- Vc não comeu nada! - Alega ele enquanto corro até o quarto de Matteo onde me escondo dele e de meus sentimentos. Matteo, completamente sujo, se delicia ao comer um bombom de chocolate.
Seu rostinho borrado de marrom me faz sorrir. Suas mãozinhas grudentas tocam meu rosto enquanto seus olhos me observam ao perguntar.- Mamãe 'dodói'?
- Não, filho. - Rindo, pergunto. - Por que vc sempre pensa que eu tô dodói?
- 'Dodói'!? - Lambendo os dedos, ele aguarda por minha resposta enquanto me faz outra pergunta. - Neném 'meguio'? Neném 'qué meguio'!
- Eu sei, filho. Eu preciso te dar atenção. É que aconteceu tanta coisa...
- 'Bobô dodói'? - Contendo meu choro, explico.
- Vovô tá no céu, filho. No céu.
- 'Chéu'? - Indaga ele apontando o dedo lambido ao teto. - 'Papai do chéu'?
- Sim. Seu avô tá com o 'Papai do Céu'. - Um arquejo e, desanimada, deito-me em seu tapete. - Por que ele não volta?
- Mamãe 'tiste'?
- Sim. Mamãe tá triste. Muito triste. - Acariciando meus cabelos já grudentos pelo chocolate, ele se deita ao meu lado e me consola.
- 'Num chola. Bobô voa pa casa di neném'.
- Quem me dera, filho. - Um beijo em seu rosto melado e aviso. - Amanhã, eu vou te levar à natação. Ok?
- 'Meguio'!? - Pergunta-me ele, eletrizado. Equilibrando-se em minha barriga, ele finge nadar, movendo os bracinhos abertos. - Neném chabe 'nadá'! Neném 'meguio'! - Sentindo seu hálito gostoso e o peso de seu corpo em meu ventre, permito-me gargalhar. Rindo, ele afirma. - Mamãe 'dodói' sumiu! - Observando sua alegria espontânea enquanto ele apoia suas costas em minhas pernas unidas e flexionadas, sussurro.
- Te amo, filho. Se vc não existisse, não sei o que seria de minha vida agora. - Olhando em direção à porta, ele celebra.
- Papai!
- Eu...eu não...não estava...espionando nada. Eu...só...
- Fala logo! - Ordeno, rispidamente, sem olhar em seus olhos. Erguendo meu tronco, eu me sento e, de costas para Vincenzo, indago. - O que quer?
- Vc não comeu nada. Eu te atrapalhei. Vim trazer um sanduíche. - Timidamente, ele se ajoelha e deixa, ao meu lado, um prato com meu 'Xburger' predileto com queijo 'cheddar'. Sua especialidade. Ele sempre o preparava para mim quando eu voltava da 'Just Dance', à noite. Quando nossos dias ainda possuíam algo de normal. Sorrio para o prato, sentindo sua presença, aqui, ao meu lado. - Vai ficar aí?
- Não. - Um súbito recuo e ele cai de bunda no chão. - Merda.
- Merda. - Repete Matteo rindo do pai. - Papai caiu. 'Ai ai ai'!
- Papai é bobão, filho! - Brinca Vincenzo. Matteo, caminha até ele e o abraça com força. Emocionado, Vincenzo acolhe Matteo em seus braços e confessa. - Papai te ama tanto, filho. Não me deixa...- Arregalo os olhos ao ouvi-lo chorar, copiosamente. Ajoelhando-me diante dele, permaneço calada e comovida. Matteo beija seu rosto e, carinhosamente, repete o que sempre digo a ele quando se machuca.
- 'Vai pachá. Shhh. Vai pachá.' - Erguendo-se, ele seca as lágrimas com o dorso da mão e avisa com a voz fanha.
- Coma antes de esfriar. - Faminta, eu o obedeço, recostada à parede, pensando em como me aproximar dele sem bancar a idiota. Matteo devora os pedaços do pão que levo até sua boquinha, sempre aberta. Animado, ele corre pelo quarto e proclama, de boca cheia.
- Mamãe 'meguio'!!! Neném 'meguio'!!!
Como encontrar forças para seguir adiante sem Enrico ou Antoine? Como voltar a confiar em Vincenzo?
Levo um tempo até desacelerar Matteo que cismava em demonstrar suas habilidades na banheira com espuma, e colocá-lo em seu berço onde ele repetiu, por diversas vezes, a palavra 'meguio' até pegar no sono. As estrelas brilham sobre sua cabecinha quando deixo sua porta entreaberta e o abençoo. Vou até o quarto de Antoine. Como uma princesa, ela sorri ao continuar a dormir. Deve estar sonhando com Leo que, exausto, cochila ao seu lado. Afasto-me de mansinho e, caminhando até a varanda, sinto um cheiro peculiar e bastante familiar. Piso no chão em madeira com os pés descalços. De braços cruzados, observo a chuva fina molhar as árvores e arbustos do nosso quintal. Lembro-me de Enrico dançando com a pedra que ganhei do homem estranho na cafeteria. Segundo Enrico, os anjos estariam ao nosso redor. Por que deixaram que o levassem? Um arcanjo não pode morrer assim. A vaca diabólica da Celeste não deveria ter o poder de sugar as energias de um ser superior a ela.
- E não tem.
- Cacete! Sempre me assustando! - Sentado na poltrona, desleixadamente, ele comenta, de olhos fechados.
- Eu já estava aqui. Vc deveria ter olhado para os lados antes de começar a pensar.
- Vc deveria parar de ler meus pensamentos e cuidar da sua vida.
- Tô tentando...- Diz ele, baforando a fumaça do meu cigarro. - Não é seu. É meu.
- Desde quando vc fuma!?
- Desde que eu comecei a me sentir um merda. - Tossindo, ele conclui. - Desde que meu pai morreu e eu deixei de ser alguém nessa casa.
- Isso é maconha!?
- Sim. - Revirando os olhos avermelhados, arrastando a voz, ele pergunta. - Qual o problema? Vc sempre fumou.
- E vc sempre fez escândalo por isso!
- Me deixa em paz...tá tudo certo.
- Me dá isso! - Sentando-me ao seu lado, tento tomar dele a guimba do cigarro ainda aceso. Ele afasta o braço, abrindo um sorriso infantil. - Vc não sabe fumar! Tá deixando a porra da fumaça chegar aos pulmões! Isso faz mal! Sabia!? - Sorrindo, ele zomba.
- Não me diga? Eu 'tô de boas'. Se eu morrer, não vou fazer falta a ninguém.
- Me dá! - Estico meu braço até sua mão. Um novo recuo de seu braço e seu queixo roça minha bochecha. Estamos próximos demais. Afastando-me dele, resmungo. - Precisa fazer a barba. Tá parecendo um mendigo!
- Não tem importância. Ninguém liga. - Um tapa em sua mão e a guimba cai na grama úmida. Prendo o riso enquanto ele reclama, 'chapado'. - Porra. Nada a ver. Eu tô tentando relaxar...
- Não relaxe! Eu não estou relaxada! Logo, vc não tem o direito de relaxar!
- Dess, eu tentei falar com vc. Vc não quis. Eu tô tentando ficar longe de vc. Vc vem aqui e 'corta o meu barato'. O que vc quer afinal?
- 'Corta o meu barato'!? Isso é jurássico!
- Aprendi com meu pai...- Levando as mãos ao rosto, ele volta a chorar. - Sinto tanto a falta dele. Não sei o que fazer. - Desejando abraçá-lo, eu me afasto ainda mais, escorregando no assento macio da poltrona larga. - Eu fui o culpado. Eu o matei.
- Não. Não diz isso. Eu tenho mais culpa do que vc. Eu não deveria ter ido à casa de Cassie e enfurecido Liam.
- Vc tentou salvar sua amiga, Dess.
- Ela era mais do que isso. Cassie era uma segunda filha pra mim. Ainda ouço seus risos antes de dormir. - Olhando-me com ternura, ele pergunta.
- Vc tem medo de saber se ela está no inferno?
- Tenho. Lúcifer disse que a alma dela pertencia a ele. Não tenho como saber onde ela está. Não tenho como ajudá-la e isso tá acabando comigo.
- Tenho como saber.
- O quê!? - Nossos olhos se encontram. Enxergo medo em seu semblante ao responder num tom sombrio.
- Onde Cassie está. Não é isso que te aflige?
- Não!
- Ué!?
- Sim! Mas não quero!
- Não quer o quê!?
- Saber! Eu não quero saber onde ela tá! Não agora!
- Vc é louca!?
- Sou! Vc me deixa louca, Vincenzo! Nenhuma mulher normal suportaria o que eu tenho suportado sem enlouquecer!
- Ok! Pode me culpar! Eu acabei com a sua vida quando te reencontrei!
- Eu te culpo mesmo! Vc me ferrou, Vincenzo!
- Eu sei...- Lamenta ele, com os cotovelos sobre os joelhos e a cabeça entre as pernas. - Eu só fiz merda.
- Mas...também me salvou de uma vida desregrada, sem esperanças. Vc me deu um filho...
- Vc me deu dois. - Um riso curto e ele brinca. - Venceu.
- Não seja idiota.
- Eu sou.
- Olha pra mim.
- Não quero.
- Vai continuar a esconder seu passado? - Seu pescoço estala assim que ele me encara. Seu olhar triste me observa antes de responder.
- Não. Quer saber de tudo, agora?
- Sim. - Voltando-me em sua direção, cruzo as pernas e fixo meus olhos nos dele. Meu coração acelera seus batimentos quando lhe peço. - Conta tudo. Por favor. - Com as mãos cruzadas na nuca, ele parece escolher as palavras.
- Não tô escolhendo merda nenhuma. Só tô com dificuldade de raciocinar. Esse cigarrinho não te faz bem. Melhor parar de fumar.
- Não fumo há séculos. Fala.
- Qual parte?
- Desde o início, Vincenzo!
- Não grita.
- Não tô gritando! Ainda!
- Celeste mentiu. Nunca fomos amantes.
- Não acredito.
- Problema seu. Se quiser que eu continue, finja que acredita e não me interrompa, porra. Isso é extremamente difícil pra mim.
- Por quê?
- Porque é uma história suja. Cheia de erros. Meus erros.
- Continua.
- Meu pai amava Celeste. Como eu poderia traí-lo de uma forma tão sórdida? Além disso, ela não fazia o meu tipo.
- Que tipo!?
- Vc. Vc sempre foi o meu tipo. Desde o início. Por vc, eu melhorei.
- Vc já foi pior?
- Sim. - Movendo a cabeça, parecendo espantar pensamentos intrusivos, ele prossegue. - Não tô espantando merda nenhuma. Para de pensar. Isso me atrapalha. Aonde vai? - Erguendo-me da cadeira, alerto.
- Não saia daí. Já volto.
Caminho até a sala. Arranco a tomada de 'Alexa' da parede e, decidida a ouvir tudo o que ele tem a revelar, retorno à varanda.
- Sério!? Tu quer ouvir música agora!?
- Se for a única forma de vc parar de ouvir meus pensamentos, sim. 'Alexa'. Tocar 'Bach'. 'Jesus alegria dos Homens'.
- Boa escolha. Espero que Ele me perdoe e proteja vcs...
- De quê? De quem? - Indago, diante dele, sentada na poltrona, cruzando minhas pernas. Tocando suas mãos trêmulas. - Conta, marido. Por pior que seja, eu ainda tô aqui, do seu lado.
- Dess...- Um beijo em minha testa e ele esconde o rosto entre as mãos. - Só um minuto.
- É tão grave assim? - Pergunto, assustada. - Vc matou alguém? Feriu? Por que Lúcifer me disse que o nosso amor está fadado à tragédia?
- Porque ele é um ser miserável. Nunca foi amado. Sempre desprezado e temido. Não ouça o que ele te diz, Dess. Ele quer nos separar.
- Não vai conseguir. Me fala tudo. Não havia anjo bom como vc me revelou há alguns anos?
- Não. Eu nunca fui tão bom.
- Vc era mau?
- Não. Eu fui burro e...
- E!?
- Ok. Me ouça e, depois, faça suas perguntas.
Com medo do que ele está prestes a revelar, concordo.
- Quando eu ainda era um anjo, visitei a Terra à procura de novas sensações. Lúcifer ainda era meu amigo. Ele me incitou a errar...a pecar. Antes de te encontrar, fiz uma mulher sofrer. Daí, vem meu transtorno. Eu a obriguei a me satisfazer...
- Vc a violentou? - Comprimindo os olhos, ele assente com a cabeça enquanto tento não perder o equilíbrio. - Ela morreu?
- Não. - Responde-me ele, baixando a cabeça. - Ela viveu. Eu pedi perdão a ela e, confuso, vaguei pela Terra até te encontrar naquela noite.
- Não me lembro. - Minto. - Como foi?
- Um alívio. Um sopro de Deus. Vc me ensinou a ser bom novamente. Fizemos amor. Eu não te forcei a nada. Eu quis retornar ao Céu e pedir aos arcanjos que me deixassem 'cair' por vc. Eles não me atenderam. Estavam ocupados. Havia uma grande guerra no Céu, orquestrada por Lúcifer e seus amigos revoltados. Acabei 'caindo', por engano, como eu te já contei. Eles me confundiram com um dos rebelados e, até hoje, não responderam ao meu pedido.
- Não precisa. Vc já está na Terra.
- Não com o consentimento de 'Meu Pai'.
- É óbvio que 'Seu Pai' já sabe, Vincenzo!
- 'Nosso Pai', Dess. 'Nosso Pai'.
- O 'Meu Criador' não se limita a conceder permissões. Ele nos deixa viver de acordo com o que achamos correto. Cada um que arque com as consequências de seus atos.
- Exato. O 'Seu Criador' é parecidíssimo como o 'Meu Pai'. Ele me deixou aqui, na Terra e eu te encontrei por diversas vezes e, enfim, construímos uma família.
- Disso eu já sei, Vincenzo. Por que aquela vaca me chamava de 'macaca'?
- Era assim que os rebelados se referiam aos Humanos. No início, vcs se assemelhavam aos primatas. Então, houve a Evolução de sua espécie, o que aumentou a ira e a inveja de Lúcifer. Ele ainda não admite ser menos amado do que vcs.
- Vincenzo. Olha pra mim e me diz a verdade.
- Tô olhando, Dess. - Amo seu olhar puro. - Pergunta.
- Por que vc me queria longe de Liam?
- Depois de tudo, eu preciso responder!? Ele levou Cassie ao suicídio e tentou te matar, Dess!
- Antes disso, Vincenzo! Vc deu sinais de que eu deveria evitá-los! Por que o medo!? Por que aquele papo de não querer nos perder!?
- Ele quer que eu me junte à Legião e lute contra Lúcifer. - Rindo, ironicamente, ele comenta. - Como se eles fossem adversários à altura do 'Rei dos Infernos'.
- E vc é?
- Dess...eu não quero falar deles.
- Por que o medo? Eu ainda não entendi. Estamos juntos. O pior já passou. Seu pai partiu. Cassie partiu.
- Sean ainda está com eles. - Um gemido de dor e imploro.
- Não fala. Isso tem tirado meu sono. O que eles podem fazer com o pequeno Sean, Vincenzo?
- Dess...- Suas mãos pressionam minhas têmporas quando ele revela. - Seu 'pequeno Sean' não é tão indefeso quanto vc pensa.
- O que quer dizer com isso? - Assusto-me. - Cassie, segundos antes de pular pela janela, disse que metade dele é Luz.
- Exato. Uma metade é Luz. E a outra? - Um súbito arrepio e, levando a mão ao peito, refuto.
- Não. Sean é uma criança pura. Como nosso filho.
- Tem certeza? Por que eles ainda não o mataram? - Um arquejo de horror e pergunto.
- Vc acha que Sean é...?
- É uma criança, Dess. Uma criança que, se não for orientada por alguém com um bom coração, pode se transformar em um brinquedo mortal nas mãos de gente ruim. Ele é filho de um demônio. O que pode resultar disso?
- O mesmo que se pode esperar de nosso filho. - Respondo, angustiada. - Não se esqueça de que sua Anahita descende da ligação entre uma humana e aquele ser maligno. Se o pequeno Sean tem um futuro marcado pelo Mal, nosso Matteo...- Abraçando-me com força, ele me pede perdão e afirma.
- Nunca! Nosso filho não tem o sangue dele! Gerações se passaram! O sangue foi modificado! Purificado! Quase nada de Lúcifer resta em nosso filho, Dess!
- Fica calmo. Isso não me atormenta. Conheço Matteo. Ele é bom. - Ainda abraçada a ele, sussurro. - Vc ainda não me disse o que te liga a Liam. Por que me pediu pra não tocar mais nele? Quando eu disse que quase o matei, vc sentiu medo. Eu vi. Eu senti, Vincenzo. No hospital.
- "Eu vi. Eu senti". - Repete ele, sorrindo. - Vou sentir falta disso, Dess...
- Fala! Por que vai sentir falta!? Vai nos deixar aqui!?
- Não se vc se mantiver longe dele, Dess.
- Por quê???
- Porque se ele morrer...- Ávida por suas palavras, não percebo o grito de Leo vindo do quarto de Antoine. É Vincenzo quem me desperta, levantando-se, apressado. - Nossa filha, Dess!
- Antoine!?
- Vem!
Corremos juntos até o quarto. Empurramos a porta entreaberta e, arquejamos juntos ao ver nossa filha de volta a esse mundo. De volta ao seu corpo.
- Ela acordou, tia! - Exulta Leo enquanto Antoine nos surpreende com uma pergunta.
- Ainda sobrou um pouco do seu bolo de ontem, mãe? Tô varada de fome!
- Vc tá diferente, filha.
- Em quê? Eu tô com fome. Só isso.
- Foram quase quatro dias, tia. O sono alimenta, mas, agora, acordada, ela tende a recuperar o tempo perdido.
- Tempo perdido...- Repito, elevando meus olhos ao teto da cozinha, recordando a última noite de vida de Enrico. - Vcs dançaram essa música.
- Dançamos não. - Corrige-me Antoine abocanhando seu segundo 'Xburger' preparado por Vincenzo. - Pulamos. Disso eu me lembro. Música 'sinistra'.
- Tem outras, Antoine. Mais 'sinistras' do que essa. - Comenta Leo, iluminado sob a luz tênue do lustre acima de nossas cabeças. Sentados à bancada, Vincenzo e eu os observamos, atentos. - Eu vou te mostrar tudo agora que acordou.
- 'Tô ligada'!
- Vc cresceu, filha. Seus músculos, os cabelos...
- Dess, é normal.
- Não. Não é. Se eu dormir hoje, acordarei, da mesma maneira, daqui a quatro dias, Vincenzo.
- Faz sentido, pai.
- Antoine! Coma devagar! O mundo não vai acabar hoje!
- Tem certeza? - Lançando-me um olhar indecifrável, ela sorri ao devorar seu sanduíche. - Fica calma, mãe. Foi uma brincadeira. - Soltando o ar dos pulmões pela boca, resmungo.
- Não tem graça, filha. Onde esteve enquanto dormia?
- Meu maninho tá com fome.
- Não desconversa. - Matteo em meu colo, se diverte com o ketchup, traçando uma linha torta sobre a bancada em mármore enquanto insisto. - Por que não quer responder? Precisamos saber o que aconteceu, filha. Vc desapareceu por quatro dias e, durante esse tempo, esteve com febre.
- Mãe, relaxa. Eu tô de volta. Fala pra ela, pai.
- Eu??? Eu eu não sei aonde foi!!!
- Por que o nervosismo, Vincenzo!?
- Não estou nervoso, Dess. Eu também quero saber onde ela esteve. Talvez, ela não se lembre.
- Talvez, eu me lembre e...- De boca cheia, ela conclui. - E não queira...ou não possa dizer.
- Talvez, eu dê uma 'surtada' agora e te obrigue a falar!
- Dess! Calma!
- Pro inferno com a calma! Nossa filha tá escondendo algo importante de nós! Vc não consegue sentir!? Ou vcs estão se comunicando enquanto o Leo e eu bancamos os idiotas!?
- Mamãe 'dodói'? - Revirando os olhos, respondo à pergunta clássica de Matteo.
- Não, filho! Não tô 'dodói'! Eu tô com raiva! É diferente!
- Mamãe 'dodói'. - Afirma ele antes de beijar minha bochecha com sua boca melada pelo suco de manga. Antoine ri do irmão que, no chão, segue em sua direção. Antoine abre seus braços e o recebe em seu colo. - Mamãe 'dodói'?
- Não, maninho. Ela tá nervosa. Só isso. Come. - Oferecendo uma batata frita a Matteo, ela se encanta e se cala. Ao redor da bancada, todos a imitam, exceto eu.
- Filha. Fala alguma coisa.
- Eu estive com meu avô. - Vincenzo arqueja, surpreendido e emocionado. Aflita, pergunto.
- Onde!?
- Onde ele está no momento.
- Como ele está, filha? - Tocando o dorso de sua mão, Antoine acalma Vincenzo ao responder.
- Ele tá bem, pai. Muito bem.
- Ele vai voltar!?
- Não exatamente.
- 'Não exatamente' não é resposta!
- Dess, vc não poderia simplesmente aceitar o que ela fala sem pedir mais!? - Inflando as narinas, respondo.
- NÃO! NÃO POSSO, VINCENZO!
- 'MAMÃE DODÓI'! - Grita Matteo lançando um olhar furioso a Vincenzo. Engulo o riso enquanto ele bate com a palma de sua mãozinha sobre o mármore e o ameaça com um 'Ai ai ai!' - Papai feio! - Rindo, Vincenzo o toma dos braços de Antoine que, satisfeita, salta da banqueta e me beija na bochecha. Leo a imita. Ainda irritado, Matteo dá um tapa no rosto de Vincenzo. Eu o repreendo com autoridade.
- Isso é feio, filho! Peça desculpas! Agora! Ai ai ai! - Seus lábios tremulam antes de chorar. Vincenzo o mima em seu colo enquanto Matteo repete, inconsolável, um 'mamãe dodói'. - Filha, aonde vai!? Ainda não terminamos. - De mãos dadas a Leo, ela me encara por segundos antes de declarar, num tom sombrio e deixar a cozinha.
- Um terá de partir para o outro vir.
- EI, MOCINHA! - Erguendo-me da banqueta, tento ir atrás dela, mas Vincenzo me impede e, pacientemente, me orienta.
- Depois, Dess. Depois. Dê um tempo pra ela. Ok?
- Tempo? Tempo é o que nós não temos, Vincenzo. - Ela tá crescendo e se afastando. Vc não percebe?
- Sim. - Abraçando-me com Matteo ainda em seu colo, ele me pede. - Vamos tentar viver com o que temos no momento? - Um aperto no peito e concordo. - Eu te amo. Não me deixa.
- Nunca.
- 'Mamãe dodói' passou? - Rindo, eu minto.
- Passou.
Antes de regressar ao 'Just Dance', levo Matteo à natação. Animadíssimo, ele corre até a borda da piscina assim que retiro seu roupão com a estampa dos 'Minions'. Confiante, ele mergulha na água morna antes mesmo do início da aula. Sem as boias nos braços, ele permanece submerso até eu sair de meu estado de choque e, desesperada, observar a apatia do professor ao me encarar sem expressão alguma em seu rosto. Num salto, alcanço o fundo da piscina. Prendendo a respiração, procuro por meu filho ouvindo o som do silêncio. Movendo braços e pernas, evito emergir sem ele. Com dificuldade, nado até uma das extremidades. As roupas pesam, os cabelos flutuam, meus olhos ardem pela ação do cloro. Meu coração bate com força dentro do peito. Não posso desistir agora. Não enquanto não encontrar meu filho que, de súbito, passa por mim e emerge, agarrado a algo. Sinto seu toque em meu ombro e, lentamente, movo minha cabeça. Seu sorriso me faz arfar, aliviada. Inconscientemente, inspiro água pelo nariz. Uma dor aguda invade minhas narinas, subindo até o topo de minha cabeça. Antes de fechar os olhos, vejo bolhas por todos os lados. Matteo, ágil como um peixe, me puxa para cima. Desnorteada, toco na mão estendida em minha direção. O movimento da água distorce sua imagem, embora, eu a reconheça. Puxando-me até a borda, ele me faz deitar. Sinto frio e medo antes de cuspir água pela boca e tossir. "Nosso filho!", sussurro com dificuldade. Surpresa, eu o vejo, agachado, ao lado do pai, perfeito e sorridente. Visivelmente emocionado, sob uma saraivada de aplausos, Vincenzo cochicha em meu ouvido.
- Nosso filho acaba de salvar a vida de um amiguinho, Dess. Ele é bom. Puxou a vc.
- Sério!?
Dentro do carro, no banco traseiro, com as roupas úmidas, o cabelo desgrenhando e tremendo de frio, agarro-me ao meu filho coberto pelo roupão e, através do retrovisor interno, aviso a Vincenzo.
- Havia algo no fundo da piscina. Eu vi. Tinha olhos vermelhos e não tinha boas intenções. Ele queria o nosso filho, Vincenzo.
- Eu acredito, Dess. Eu acredito. - Diz Vincenzo fixando seus olhos assustados em meu reflexo. - A perseguição já começou. - Lamenta ele ao volante. - Estamos perto do início do fim.
- O professor viu tudo e não fez nada! Ele me olhou e não fez nada!
- Não volte a esse lugar, Dess.
- Não voltarei. Tenho medo, marido.
- Eu também. Mas não vou desistir se vc estiver comigo.
- Estarei...- Beijo a cabecinha de meu novo herói enquanto ele repete sua famosa frase.
- 'Mamãe dodói' passou? - Sentindo-me impotente, minto outra vez.
- Passou.
Abraçada ao meu filho, sentada no chão de seu quarto, escuto a narrativa peculiar de Matteo sobre o que acontecera durante o dia enquanto Antoine penteia meus cabelos ainda úmidos e lavados. Rindo de seu vocabulário restrito e de sua dramaticidade nos gestos das mãos, boca e olhos arregalados, ela comenta.
- Meu maninho tem um poder ainda maior do que o meu, mãe. Não permita que ele se desvie.
- Não entendi, filha. - Esfregando meu couro cabeludo com a toalha, ela desconversa ao perguntar.
- Por que todas as meninas têm uma festa quando completam quinze anos?
- Oi??? De onde veio essa pergunta???
- Leo me disse que é comum. - Um suspiro e ela lamenta. - Eu queria tanto ser comum! Acho que vou sentir saudades daqui!
- Antoine. - Cubro meu rosto com as mãos e imploro. - Para, por favor. Não gosto quando começa com esse assunto.
- Ok. Não precisa chorar, madame. Seu cabelo está simplesmente esplêndido. - Olhando-me no espelho oval à minha frente, murmuro.
- Eu amo tranças.
- Eu também. Se um dia, eu pudesse ter uma festa de quinze anos, eu estaria com uma longa trança.
- Vc sabe quantos anos tem? - Indago entre desconfiada, curiosa e amargurada. - Pelo seu tamanho, eu te daria uns quinze ou dezesseis. - Olhando-me pelo espelho, ela concorda.
- Devo ter quinze...
- Deve? Não existe alguém, lá em cima, que te direcione?
- Sim. Existe.
- Filha, fala comigo. Sou sua melhor amiga. Ao menos, aqui na Terra.
- Vc é minha melhor amiga em todo o universo, mãe. - De súbito, choro copiosamente. Emocionada, eu a abraço enquanto Matteo corre pelo quarto, cantarolando 'nininha dodói'. Incomodada com sua fixação por doença, abro a porta do quarto e, gentilmente, eu o expulso ao gritar.
- Vincenzo! Cuida dele! - Recostada à porta fechada, indago. - Seu irmão tem razão!? Vc tá doente!?
- Não, mãe...- Revirando os olhos, ela sorri ao responder. - Ele é uma criança especial, mas, ainda assim, é uma criança. Não tô doente. Eu só estou no fim.
- Aaaah tá...- Minhas pernas enfraquecem enquanto escorrego até o chão e, sentada, puxando o ar pela boca, suplico. - Filha. Não nos deixe. Não sei viver sem vc.
- Não vou, mãe. Tô te zoando. - Mente ela. Vejo em seus olhos. Assim como o pai, ela não sabe mentir. - Levanta. - Estendendo-me o braço, ela avisa. - Hoje tem treino de 'Kickboxing'. Preciso estar perfeita para o grande dia.
- Eu me nego a perguntar que dia é esse.
- Melhor assim, mãe. Vc me leva até a academia ou peço ao meu pai? - Reunindo todas as minhas forças, respondo.
- Eu te levo. Afinal, lá é o meu trabalho.
- Se eu te mostrar uma música, vc monta uma coreografia pra mim?
- Claro, filha. - Um longo abraço e tento não chorar em seu ombro. Deus. Ela já está tão alta quanto eu...- O que quiser.
- Ok! Vou contar ao Leo que teremos o nosso próprio baile!
- Que baile, filha!?
- Dos meus quinze anos! Vai ser simplesmente esplêndido!
- Sem convidados!? Sem salão!? Sem bolo!?
- Sim! São só detalhes, mãe! Se vcs estiverem comigo, eu estarei feliz! - Correndo até seu quarto, ela fala com Leo pelo notebook. Inocentemente encantada, ela comemora. - Vamos poder dançar aquela música, Leo! Minha mãe vai montar uma coreografia! Vai ser como uma grande festa só que de 'mentirinha'!
Recostada à parede do corredor, elevo os olhos ao teto e volto ao dia em que ela decretou o fim de sua existência na Terra. Aos quinze anos. Isso não pode passar em branco. Não mesmo. Se ela sonha com uma festa de quinze anos, ela vai ter uma. A melhor de todas. Ela merece.
Pode parecer covardia. Talvez, seja. Evito me reencontrar com Aninha e rever o 'menino carrancudo'. Ouço elogios sobre Antoine de meu colega, professor de 'Kickboxing'. Ele afirma nunca ter visto uma aluna tão disciplinada quanto ela. Tão focada em um objetivo.
- E qual seria o objetivo? Ela te falou? - Pergunto durante o intervalo entre uma aula e outra. - Ela te contou alguma coisa?
- Sim. - Confirma o professor. - Ela diz estar se preparando para alguma espécie de batalha. Não me recordo o nome...
- A 'Grande Batalha'?
- Exatamente! - Diz ele, sorrindo. - É algum tipo de jogos entre jovens? Um campeonato ou algo parecido!? - Preocupada, minto, desviando meus olhos de seu olhar curioso.
- Não. É bobagem. Antoine adora dramatizar.
- Adessa. Tá fugindo de mim? - Voltando-me para trás, eu a reencontro.
- Aninha...
- Não te vejo há tanto tempo. Desde que...
- É...- Hesito, sem jeito. - Eu tive problemas. Agora, espero voltar de uma vez por todas.
- Por que não me olha? - Por que o 'menino carrancudo' continua ao seu lado? - Adessa, eu preciso de sua amizade. É a mais sincera que eu já tive.
- Vc ainda a tem, querida. É que...
- Vc sente alguma coisa?
- Não. - Minto ao fixar meus olhos no menino ainda mais sujo e zangado. - Eu tenho andado ocupada demais. Vc melhorou?
- Sim. Parei de sangrar, mas...
- Mas? - Puxando-me para um dos cantos da academia, ela cochicha.
- Sinto dores nas costas e não consigo dormir direito. Sempre acordo de madrugada e tenho a nítida sensação de que não estou só no meu quarto. Eu tô enlouquecendo ou tem alguma coisa perto de mim?
- Não sei. - Minto novamente. Odeio mentir. Sério. Como falar que eu não aceitei o aborto e que, talvez, ela devesse reconsiderar seu posicionamento com relação aos métodos contraceptivos? - Não é assim que acontece. Preciso de concentração e calma.
- Vc falou sobre um menino. - Segurando meu pulso, ela prossegue, assustada. - Vc conversou com ele enquanto eu sangrava no dia do aborto. Vc viu alguma coisa, Adessa? Me fala. Por favor.
- Não aqui. - Um olhar de reprovação ao menino montado em suas costas e afirmo. - Não agora. Vamos conversar mais tarde.
- Promete? - Apiedando-me de seu estado deplorável, respondo.
- Prometo. - Tocando em suas costas curvadas, concentro-me ao orar ao Criador para que conceda descanso ao menino. De súbito, ela se mantem ereta e, eufórica, avisa.
- Parou de doer! Como conseguiu!?
- Não fui eu. Foi o Criador. Acredita n'Ele?
- Sim. Mas tenho andado afastada.
- Nunca é tarde pra se aproximar d'Ele, Aninha. Ninguém melhor do que eu pra te afirmar isso.
- Posso te esperar lá em casa pra gente conversar?
- Pode. - Uma olhadela ao relógio acima de sua cabeça e comento. - Tô atrasada pra próxima aula. Depois, a gente marca um encontro. Ok? - Beijo sua cabeça e, a caminho da sala de aula, ele me faz parar.
"Não vou me afastar dela. Vc sabe disso", alerta o menino, contrariado, com seu ódio crescente. Fingindo não me importar, alego, num pensamento.
"Por mim, tudo bem. Tente explicar isso aos outros. Os que estão acima de vc. Tudo tem um início e um fim. Até mesmo sua busca por justiça. Eu não decido nada. Com licença".
Antes de entrar em sala de aula, eu o vejo montar sobre as costas de Aninha que volta a se abater.
- Isso não pode ficar assim. - Digo a mim mesma. - Não é justo.
- Discordo. As Leis são imutáveis. Ela matou a criança por três vezes. Ela deve pagar por seu crime aqui e após a morte.
- Agora não, verme. - Rosno diante do espelho retangular enquanto as alunas se alongam. - Tenho que trabalhar. Volte pro inferno.
- Voltarei. Vim apenas para te enviar mensagem de sua Cassie. - Uma risada diabólica e Lúcifer me desequilibra. - Ela sofre como jamais imaginou e isso me faz tão bem...
- Maldito. - Sussurro ao alertar. - Eu irei atrás dela.
- Te espero.
- Vc disse que sabe como encontrar Cassie. Eu preciso saber onde e como ela está.













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